
Enquanto os grandes nomes da indústria automotiva correm para se adaptar às tarifas impostas por Donald Trump e ao gargalo na oferta de minerais raros, a Bosch, maior fornecedora automotiva do mundo, se mantém relativamente estável.
Mas há uma preocupação crescente dentro da companhia: o futuro dos pequenos fornecedores.
O alerta veio de Paul Thomas, presidente da Bosch na América do Norte, que participou de um painel em Michigan e deixou claro que o problema real não está na linha de frente da cadeia produtiva, mas sim nos bastidores — entre os fornecedores de segundo, terceiro e até quarto escalão.
Segundo Thomas, empresas sólidas como a Bosch conseguem lidar com oscilações repentinas nas tarifas ou mudanças nas regras comerciais.
Mas o mesmo não pode ser dito das empresas menores, muitas das quais operam com margens apertadas e pouca folga de caixa. “Essas companhias não têm a mesma pista de segurança que nós. Eu realmente me preocupo com elas”, disse o executivo.
Desde abril, os Estados Unidos impõem uma tarifa de 25% sobre veículos importados, e partes como motores, transmissões e componentes elétricos também estão sendo taxadas.
Mais recentemente, as tarifas sobre aço e alumínio dobraram, chegando a 50%, aumentando ainda mais a pressão nos custos de produção.
A Bosch, que já vinha trabalhando com uma equipe dedicada exclusivamente ao acompanhamento do código tarifário harmonizado — um sistema internacional de classificação de mercadorias —, agora precisa revisar decisões comerciais praticamente todos os dias. “É um trabalho diário e exaustivo”, admite Thomas.
Apesar disso, o discurso oficial ainda é de estabilidade. A empresa projeta um restante de ano com produção sólida, mesmo com os desafios.
Ainda assim, Thomas reconhece que muito dependerá do comportamento do mercado nos próximos dois anos. A boa notícia é que, com a frota circulante envelhecendo e novos modelos mais baratos chegando às lojas, existe demanda reprimida, o que pode sustentar as vendas no curto prazo.
Collin Shaw, presidente da MEMA (associação dos fornecedores originais), reforçou o tom cautelosamente otimista. Segundo ele, mesmo com a turbulência comercial, as relações entre montadoras e fornecedores têm se fortalecido.
“Há uma tentativa genuína de diálogo e cooperação”, afirmou.
Ainda assim, a realidade é que, se os custos não puderem ser absorvidos ou mitigados, eles acabarão sendo repassados às montadoras, que já sentem os impactos financeiros das tarifas.
E o efeito em cascata pode se agravar: se os fornecedores menores quebrarem, toda a cadeia produtiva pode entrar em colapso.
A Bosch pode até continuar navegando com segurança por agora, mas ela sabe que a tempestade está se formando na retaguarda — e que muitos não têm colete salva-vidas.

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