Prometer um veículo elétrico barato, personalizável e que realmente desperte desejo de dirigir virou o sonho dourado da indústria automotiva.
A startup americana Slate Auto tem chamado atenção justamente por afirmar que encontrou esse caminho, ao apresentar uma picape elétrica minimalista com jeitão de SUV e preço inicial BEM atraente.
Mas, como costuma acontecer, a realidade parece bem menos brilhante que o vídeo promocional.
A empresa anunciou recentemente seu primeiro modelo, simplesmente chamado de “The Truck”, que em tradução literal é “A Caminhonete”.
O nome genérico faz parte da proposta: todos os veículos sairão da fábrica com aparência idêntica, e será o cliente quem vai escolher, por meio de pacotes e opcionais pagos, como o veículo será montado.
Por enquanto, a promessa é de preço abaixo de US$ 28 mil — algo em torno de R$ 155 mil na conversão direta — ou cerca de R$ 115 mil com os créditos fiscais federais ainda vigentes nos Estados Unidos.
Mas esse benefício pode desaparecer já em 2025, o que aumentaria o preço real do modelo logo nos primeiros lotes.
Além disso, o valor “base” é para um veículo extremamente espartano. Não há central multimídia, os vidros são manuais e nem alto-falantes vêm de série.
O teto rígido é opcional, assim como diversos equipamentos que são padrão até em carros populares. E é exatamente isso que preocupa analistas e executivos de montadoras tradicionais.
Tim Kuniskis, CEO da RAM (marca pertencente à Stellantis), foi direto ao comentar o modelo da Slate:
“Quando começarem a adicionar os opcionais, não vai mais custar 20 mil dólares. Vai bater os 35 mil fácil, e isso já é preço de picape média”, disse ele à rede CNBC.
Outro analista ouvido pela mesma emissora, Karl Brauer, do iSeeCars, também não se mostrou otimista: “Eles estão tentando vender um carro com dois lugares, 140 km de autonomia, sem touchscreen e ainda assim custa quase 28 mil dólares. Não é competitivo.”
A ideia por trás do projeto até é interessante. A proposta de um carro elétrico modular, simples e adaptável a vários tipos de uso, tem apelo para quem busca fugir dos modelos caros e cheios de tecnologia embarcada que nem sempre são necessárias.
Mas há um abismo entre a promessa de um EV acessível e a realidade de colocar um desses nas ruas por um preço razoável.
Com incentivos fiscais prestes a desaparecer, uma lista de opcionais que pode facilmente inflar o valor e uma proposta de veículo básico demais para os padrões atuais, o “Truck” da Slate corre o risco de se tornar apenas mais um exemplo de como ainda é difícil entregar um carro elétrico popular — mesmo quando se abre mão do conforto moderno.
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