A Ferrari está enfrentando uma tempestade jurídica nos Estados Unidos que ameaça manchar ainda mais sua reputação já marcada por controvérsias.

A subsidiária norte-americana da marca italiana de superesportivos está no centro de uma ação coletiva movida por proprietários que alegam falhas graves no sistema de freios de diversos modelos da montadora, com risco real de acidentes por perda total ou parcial da capacidade de frenagem.

A ação teve um avanço importante no último dia 14 de março, quando o juiz federal Jamel K. Semper, em Nova Jersey, decidiu permitir que várias das alegações contra a Ferrari North America e a fornecedora Bosch sigam adiante no processo.

Os autores acusam as empresas de esconderem deliberadamente um defeito relacionado a vazamentos de fluido de freio, mesmo após registros de falhas sérias, acidentes e queixas de clientes.

Segundo documentos judiciais, a Ferrari até iniciou um recall em 2021, ampliado em 2022 para quase todos os modelos fabricados desde 2005. A solução oferecida? Substituição da tampa do reservatório de fluido de freio e atualização do software do carro para emitir alertas em caso de baixa pressão.

Para os donos, isso foi uma gambiarra. A acusação diz que a Ferrari preferiu uma medida barata e provisória em vez de trocar os componentes defeituosos, colocando o lucro acima da segurança dos clientes.

Os relatos dos donos são dignos de roteiro de filme — e não um bom. Jeffrey Rose, por exemplo, contou que menos de um mês após comprar seu 488 GTB usado, os freios falharam completamente, fazendo o carro literalmente rolar até cair em um lago.

Já Howard Hardwick viveu momentos de terror em plena pista de corrida, quando os freios de seu Ferrari falharam no Sebring International Raceway, causando uma batida contra uma barreira de pneus. O prejuízo dele? Mais de 150 mil dólares.

A ação coletiva reúne clientes de diversos estados americanos, como Califórnia, Geórgia, Flórida, Massachusetts e Nova Jersey, e baseia-se em leis locais de proteção ao consumidor.

Alega-se que a Ferrari não apenas escondeu os riscos, mas também enganou consumidores por meio de materiais de marketing e declarações oficiais, omitindo dados de testes de segurança, reclamações e registros de garantia que mostrariam o defeito.

Embora a Ferrari tenha tentado barrar a ação argumentando que as acusações eram improcedentes ou estavam fora do prazo legal, o juiz discordou, destacando que há indícios suficientes de que a empresa escondeu informações cruciais.

Por ora, a ação ainda não é nacional, mas o avanço da causa pode abrir precedente para outros processos semelhantes em todo o país.

O processo agora deve avançar para a fase de coleta de provas, a menos que a montadora opte por um acordo. Os autores buscam compensações por perda de valor dos veículos, custos com reparos e até indenizações punitivas.

Até o momento, a Ferrari não se manifestou publicamente sobre o andamento do caso.

Para uma marca que sempre se orgulhou de vender máquinas de altíssimo desempenho, esse escândalo de freios pode frear — e muito — sua credibilidade. Afinal, o que adianta um supercarro que não consegue parar?