
Aprender a dirigir nunca foi sinônimo de tranquilidade. Mistura nervosismo, empolgação e, principalmente, muito estresse.
Mas no Reino Unido, além dos desafios naturais de um volante nas mãos pela primeira vez, os aspirantes a motoristas estão enfrentando um obstáculo ainda mais frustrante: conseguir agendar o teste prático para tirar a carteira virou missão quase impossível.
Dados oficiais revelam que, entre fevereiro de 2024 e fevereiro de 2025, o tempo médio de espera para marcar o exame prático foi de cinco meses — bem acima dos já demorados 3,5 meses da média nacional anterior.
E pior: o número de centros de teste com fila superior a seis meses dobrou nesse período, atingindo 183 locais.
Como o sistema só permite marcar com no máximo 24 semanas de antecedência, nem há dados disponíveis sobre quanto tempo pode ser a espera real em muitos desses centros.

A situação ficou tão crítica que o Departamento de Padrões de Condutores e Veículos (DVSA) anunciou um plano emergencial com sete ações para tentar resolver o gargalo.
Entre elas, está a contratação de 450 novos examinadores, mudanças nas regras de cancelamento de provas — que agora precisam ser feitas com pelo menos 10 dias úteis de antecedência — e a possível ampliação do limite de 24 semanas para agendamentos.
Mas a crise foi além da logística e abriu espaço até para um mercado paralelo.
Aproveitando o sistema sobrecarregado, instrutores particulares têm feito agendamentos fraudulentos com nomes falsos ou de alunos que não têm intenção de fazer o teste, apenas para revender os horários depois.
Bots automatizados também entram em ação, abocanhando vagas assim que são liberadas.
Esses horários “piratas” estão sendo vendidos por até £300, mesmo que o valor oficial do teste varie entre £62 e £75, dependendo do dia.
O DVSA já cancelou cerca de 800 contas comerciais envolvidas nessas práticas irregulares.
A meta do governo, além de reorganizar o caos, é fazer com que os candidatos só agendem o teste quando estiverem realmente prontos, o que ajudaria a reduzir o número de faltas e reprovações.
Além do impacto individual, a crise também preocupa o governo britânico por suas consequências econômicas. Dirigir é, muitas vezes, um requisito para o primeiro emprego, principalmente em regiões onde o transporte público é escasso.
Desde 2019, a proporção de jovens entre 17 e 20 anos com carteira caiu de 35% para 29%, e muitos dos que estão esperando na fila para o exame estão fora da escola, do mercado de trabalho e de programas de capacitação.
No fim das contas, conseguir a tão sonhada carteira de motorista no Reino Unido hoje é mais sobre sobreviver à burocracia do que aprender a fazer baliza. E, para muitos, isso está adiando não só a liberdade de dirigir, mas também o começo da vida adulta.

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