
O último dia de setembro marcou não apenas o fim do crédito fiscal de US$ 7.500 para veículos elétricos nos Estados Unidos, mas também uma espécie de virada de chave para a Ford.
Durante a conferência Accelerate, realizada em Detroit, a montadora americana admitiu publicamente aquilo que o mercado já vinha percebendo: os EVs de luxo, caros e pesados, não empolgam o consumidor médio americano.
Quem fez essa autocrítica foi ninguém menos que o CEO da Ford, Jim Farley. Segundo ele, a empresa superestimou o apelo dos carros elétricos de alto custo.
“Os clientes não querem um veículo elétrico de US$ 75 mil. Acham interessante, rápido, eficiente… mas é caro demais”, afirmou. A constatação tardia obrigou a montadora a revisar seus planos, que antes priorizavam modelos totalmente elétricos.
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Para Farley, o caminho agora passa pelos híbridos, híbridos plug-in e sistemas com extensão de autonomia.

A nova aposta da Ford, segundo o executivo, está nesses veículos “parcialmente elétricos”, que atendem melhor às necessidades reais de trabalhadores, empreiteiros e moradores de regiões suburbanas.
Mas há um paradoxo curioso nessa guinada: hoje, a Ford tem pouquíssimas opções híbridas no mercado americano.
Além do compacto Maverick e do SUV Escape — este último já com os dias contados e fora de estoque em muitas regiões —, a linha F-150 híbrida é a única representante relevante da categoria.
Ainda assim, Farley garante que a procura pela versão eletrificada da F-150 está crescendo de forma significativa.
A nova estratégia exige um redesenho completo da cadeia de produção. Modelos 100% elétricos que estavam nos planos da montadora agora podem dar lugar a híbridos, forçando a adaptação de fábricas inteiras e até um novo direcionamento para as plantas de baterias em construção.

Em agosto, a Ford chegou a anunciar um projeto de picape elétrica de US$ 30 mil com estreia prevista para 2027. O modelo usaria uma nova plataforma e deverá contar com algum tipo de motorização híbrida ou com extensor de autonomia.
Porém, como o próprio Farley destacou, o cenário político e regulatório tem mudado a uma velocidade vertiginosa. “As regras da EPA mudaram completamente nos últimos seis meses.
Perdemos o crédito de US$ 7.500. Isso vai aumentar a pressão sobre a economia essencial, e a gente vai ter que adaptar as fábricas que seriam de EVs para produzir híbridos.”
Segundo ele, apesar do estresse adicional na cadeia de suprimentos, as mudanças podem ser positivas a longo prazo.
Mas não escondem o fato de que o plano elétrico da Ford, que parecia sólido até pouco tempo atrás, agora terá que se curvar às exigências do mundo real — onde o cliente quer um carro acessível, versátil e, acima de tudo, que caiba no orçamento do trabalhador comum.
Para uma marca que tem a F-150 como seu principal símbolo, o desafio será manter o ritmo de inovação sem abandonar o consumidor que a consagrou: o americano de classe média que, no fim das contas, não quer saber de um EV de US$ 75 mil — mas sim de um carro confiável, híbrido e funcional.
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