
Durante anos, gigantes como Ford, General Motors e Stellantis precisaram abrir o cofre para manter suas operações rodando dentro das regras ambientais americanas.
Como não conseguiam cumprir integralmente as metas de emissões, acabavam comprando créditos regulatórios de empresas como Tesla e Rivian, que, por produzirem apenas veículos elétricos, acumulavam esses créditos aos montes.
Agora, com as mudanças nas políticas do governo Trump, esse jogo virou — e virou de vez.
Desde 2022, só a GM gastou cerca de US$ 3,5 bilhões com a compra desses créditos, segundo dados da Bloomberg. Ford e Stellantis também injetaram bilhões no mesmo esquema.
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Esse dinheiro foi parar diretamente nos bolsos das concorrentes, especialmente Tesla e Rivian, que usavam essa fonte de receita quase como um subsídio indireto. Para empresas novas e focadas em elétricos, era uma forma de equilibrar as contas enquanto o mercado ainda se consolidava.

Mas tudo isso ficou no passado.
Com o fim dos créditos federais para veículos elétricos e a eliminação das multas por descumprimento das metas de consumo — as famosas regras CAFE —, as montadoras tradicionais finalmente se livraram da dependência financeira de suas rivais elétricas.
Agora, Ford, GM e Stellantis podem direcionar esses bilhões para dentro de casa, reinvestindo em produtos mais alinhados com seu portfólio clássico: picapes, SUVs e motores a combustão.
O CEO da Ford, Jim Farley, não escondeu o entusiasmo com a mudança. Para ele, a nova política abre uma “oportunidade bilionária” para a marca.
A fábrica de Oakville, no Canadá, que antes estava sendo adaptada para produzir EVs, agora será convertida para montar caminhonetes Super Duty.

A GM segue o mesmo caminho, reduzindo produção de EVs e readequando fábricas para modelos a gasolina. Já a Stellantis foi além: trouxe de volta o lendário motor Hemi V8 — símbolo de potência, consumo elevado e, agora, liberdade regulatória.
Enquanto isso, o efeito colateral para empresas como Tesla e Rivian é imediato. Com o fim do repasse bilionário das concorrentes, essas marcas perdem uma de suas principais fontes de lucro.
E não é só isso: a retirada do crédito federal de US$ 7.500 por carro elétrico também dificulta as vendas no varejo.
O impacto já se faz sentir entre startups como a Slate, que dependiam desses incentivos para viabilizar modelos acessíveis. Sem eles, o negócio pode nem sair do papel.
Mais preocupante ainda é a postura da EPA, a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Mesmo tendo como missão “proteger a saúde humana e o meio ambiente”, a entidade agora apoia abertamente a reversão de medidas que incentivavam veículos menos poluentes.
Com isso, abre-se caminho para um mercado dominado por modelos mais baratos de produzir — e mais poluentes.
No fundo, o que está acontecendo é uma redistribuição massiva de capital dentro da indústria automotiva americana. O dinheiro que antes fluía das gigantes para as novatas agora fica em casa.
Tesla e Rivian, que viveram anos de bonança com crédito fácil e vendas subsidiadas, terão que se virar com as próprias pernas em um mercado menos amigável.
E as montadoras tradicionais? Livres das amarras regulatórias, voltam a apostar no que sempre souberam fazer: vender caminhonetes e SUVs a combustão em larga escala.
A festa dos créditos acabou — e os antigos pagadores agora assumem o controle do jogo.
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