
Mary Barra, CEO da General Motors, abriu sua tradicional carta trimestral aos acionistas com um tom conciliador, agradecendo ao ex-presidente Donald Trump pelo apoio à indústria automotiva dos Estados Unidos.
Mas bastaram alguns parágrafos para que o clima mudasse: a executiva alertou que as tarifas imprevisíveis impostas por Trump podem gerar um impacto financeiro de até 5 bilhões de dólares à montadora.
A carta de Barra escancara o malabarismo político e econômico que a GM está sendo forçada a fazer.
De um lado, precisa manter um relacionamento diplomático com o governo e, do outro, tranquilizar investidores diante de um cenário que beira o caos.
Apesar da nuvem escura das tarifas, a GM apresentou avanços concretos: a receita subiu 2% em comparação com o ano anterior, e os resultados dos veículos elétricos têm melhorado significativamente, tanto em vendas quanto em rentabilidade.

Barra destacou que a GM consolidou sua posição como a segunda maior vendedora de carros elétricos nos Estados Unidos, ficando atrás apenas da Tesla.
Com modelos como o Equinox EV e o Blazer EV, a Chevrolet é atualmente a marca de carros elétricos que mais cresce no país.
Além disso, a GM ostenta o título de maior produtora de baterias de íons de lítio nos EUA, um diferencial estratégico no segmento de eletrificação.
Apesar desses bons números, a empresa foi forçada a suspender sua previsão de lucros para o ano, classificando qualquer tentativa de projeção neste momento como um simples “chute”, segundo o The New York Times.
A conferência com analistas financeiros sobre os resultados do primeiro trimestre também foi adiada, à espera de mais clareza sobre os efeitos das novas medidas de Trump.

O ex-presidente assinou nesta semana uma nova ordem executiva revertendo parte das tarifas que ele mesmo havia defendido como motor de uma “renascença” industrial.
Pela nova regra, montadoras que já pagam 25% sobre veículos importados podem ser isentas de outras taxas, como as aplicadas sobre aço, alumínio e insumos vindos do México e do Canadá.
O problema é que, na prática, fornecedores ainda arcam com esses custos e os repassam às montadoras.
O cenário preocupa analistas, que já alertam para aumentos de até 10 mil dólares nos preços de carros novos.
Isso gerou uma corrida aos concessionários: em abril, segundo a J.D. Power, as vendas saltaram 10,5% em relação ao mesmo mês do ano anterior, impulsionadas por cerca de 139 mil compradores tentando garantir valores antes de novos aumentos.
Mas esse movimento já começa a desacelerar, com as montadoras sinalizando uma possível estabilidade de preços ao longo do verão.
Ainda assim, na carta aos acionistas, Mary Barra evitou mencionar alta de preços ou pânico do consumidor. Preferiu manter uma postura otimista e diplomática, apostando na flexibilidade de Trump — que já demonstrou disposição para recuar em decisões anteriores.
“Esperamos continuar nosso diálogo produtivo com o governo sobre comércio e outras políticas à medida que evoluem”, escreveu. “Seguiremos ágeis e disciplinados, atualizando vocês assim que soubermos mais.”
Por ora, o jogo da GM é de paciência.
Mas com bilhões de dólares em jogo, essa espera pode custar caro.

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