O clima esquentou na assembleia anual de acionistas do Grupo Volkswagen realizada no dia 16 de maio.
Investidores não pouparam críticas à estrutura de governança da montadora, com reclamações direcionadas especialmente à influência desproporcional das famílias controladoras Porsche e Piëch, além do controverso acúmulo de cargos do CEO Oliver Blume.
Blume, que desde 2022 ocupa simultaneamente a presidência do Grupo Volkswagen e da Porsche AG, virou o principal alvo de descontentamento.
A duplicidade de funções, considerada uma possível fonte de conflito de interesses, voltou a ser duramente contestada.
“Sr. Blume, mais uma vez fazemos um apelo urgente: renuncie a um dos seus cargos no conselho”, disse Ingo Speich, do fundo Deka Investment, durante a reunião.
Segundo ele, os conflitos de interesse dentro da estrutura corporativa estão causando sérios danos à reputação da empresa e prejuízos financeiros expressivos.
Os números parecem apoiar essa avaliação. As ações da Volkswagen caíram quase 25% nos últimos 12 meses, despencando de 140,40 euros para 105,60 euros — um desempenho bem abaixo dos índices automotivos europeus e do DAX alemão.
E para piorar, a própria VW admitiu no mês passado que deve atingir apenas a faixa inferior da sua meta anual de rentabilidade, entre 5,5% e 6,5% de margem operacional.
As famílias Porsche e Piëch continuam exercendo forte influência sobre os rumos da montadora, controlando a maioria dos direitos de voto por meio da holding Porsche SE.
Ainda assim, Wolfgang Porsche, que lidera os conselhos de supervisão tanto da holding quanto da Porsche AG, rejeita a ideia de que a governança falha seja culpada pelo desempenho ruim da empresa, responsabilizando, em vez disso, os custos elevados e a performance fraca.
No entanto, a insatisfação dos investidores vai além da figura de Blume.
Representantes de quatro fundos destacaram que o conselho da Volkswagen carece de conhecimentos essenciais em áreas como eletrificação e digitalização — justamente os pilares mais críticos para o futuro da indústria automotiva.
“A impressão cada vez mais forte é de que o poder, e não o mercado, é quem manda na Volkswagen”, disparou Hendrik Schmidt, da gestora DWS.
Mesmo diante da pressão, Blume defendeu seu acúmulo de cargos, alegando que sua atuação simultânea tem favorecido sinergias e cortes de custos tanto na VW quanto na Porsche.
“Desde o início ficou claro que essa situação não seria permanente. Mas acredito que essa combinação de funções tem sido uma receita de sucesso”, afirmou. Já o presidente do conselho de supervisão, Hans Dieter Poetsch, também saiu em defesa da estrutura atual.
Mas os acionistas não estão convencidos. Janne Werning, da Union Investment, foi direto ao ponto:
“Em vez de ignorar as críticas dos acionistas ano após ano, vocês deveriam enfrentar e corrigir essas deficiências gritantes de governança antes que a Volkswagen afunde ainda mais na crise”.
Com a transição para os veículos elétricos se intensificando, o avanço da concorrência chinesa e os altos custos operacionais na Europa, a Volkswagen está sob pressão como nunca.
E se depender de seus investidores, mudanças estruturais no topo não são mais apenas desejáveis — são urgentes.
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