Em um caso que parece saído de um manual de como não lidar com dados públicos, o governo suíço tomou a controversa decisão de esconder um estudo que ele mesmo encomendou, e que poderia ajudar a combater as mudanças climáticas.
A pesquisa, que custou 100 mil francos suíços – cerca de R$ 670 mil –, foi conduzida pela respeitada consultoria Infras e entregue em 2024.
O objetivo era simples: entender em que momento vale a pena, do ponto de vista ambiental, substituir um carro a combustão por um elétrico.
O resultado foi claro: em mais de 90% dos casos analisados, trocar um carro movido a gasolina ou diesel por um EV do mesmo porte reduz as emissões de CO₂ imediatamente, salvo exceções como veículos praticamente inutilizados.
Ainda assim, o estudo nunca foi publicado. O motivo? Segundo e-mails internos da própria administração federal, o tema era “potencialmente sensível” e os resultados poderiam ser “mal interpretados”.
A decisão de engavetar o documento foi revelada graças ao trabalho investigativo da revista suíça Republik, que usou a legislação de acesso à informação para obter não apenas o relatório, mas também os bastidores da sua supressão.
Em trocas de mensagens internas, funcionários da Secretaria Federal de Energia demonstraram receio de que as conclusões fossem vistas como elitistas – sugerindo que só pessoas com poder aquisitivo poderiam “trocar de carro pelo bem do planeta”.
É um argumento curioso, para dizer o mínimo. Afinal, o estudo não era uma imposição, mas sim uma análise para informar o consumidor e subsidiar decisões políticas.
Em vez de ser divulgado amplamente, como seria esperado num país com tradição de transparência, o material foi enterrado por medo da repercussão pública – mesmo diante de metas ambiciosas de eletrificação no país.
Enquanto isso, a Suíça corre para atingir o objetivo de ter 50% dos carros novos vendidos em 2025 com propulsão elétrica, mas está empacada nos 30%.
Esconder um estudo que mostra que a substituição dos veículos a combustão por elétricos é benéfica logo de início não parece ser o melhor caminho para chegar lá.
A decisão de ocultar os dados alimenta ainda mais o ceticismo e as teorias de que interesses ligados aos combustíveis fósseis e à estabilidade do status quo financeiro seguem tendo influência considerável sobre decisões ambientais.
No fim das contas, o que era para ser uma ferramenta de conscientização virou um símbolo do medo político em lidar com verdades inconvenientes.
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