
O ano de 2025 está terminando com mais perguntas do que respostas para John Elkann, herdeiro do império Agnelli e figura central de algumas das maiores empresas italianas.
No epicentro de escândalos jurídicos, tensões familiares, greves na imprensa e queda no valor de mercado de seus ativos, Elkann enfrenta uma das fases mais desafiadoras de sua trajetória.
Em um movimento simbólico, ele recusou uma oferta de €1,1 bilhão do grupo Tether pela Juventus, clube de futebol controlado pela família há mais de um século.
A recusa foi acompanhada de uma mensagem enfática: “Nossa história e nossos valores não estão à venda”.
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No entanto, fora dos gramados, a estabilidade parece longe de ser recuperada. Um juiz de Turim decidiu ignorar um acordo previamente estabelecido e ordenou que Elkann seja processado por fraude fiscal.
O caso está diretamente ligado à herança de sua avó, Marella Agnelli, e ao litígio de longa data com sua mãe, Margherita.
A disputa familiar não é apenas emocional, mas também financeira.
Para encerrar a investigação, Elkann havia concordado em pagar centenas de milhões de euros e prestar serviços comunitários, sem admitir culpa. Agora, esse capítulo volta a assombrá-lo.
No campo empresarial, a Exor, holding controlada pela família com 55% das ações sob posse direta, perdeu 18% de seu valor desde janeiro, reduzindo sua capitalização de mercado para €15,1 bilhões.
As duas principais participações da Exor — Stellantis e Ferrari — registraram quedas superiores a 20% neste ano.
Investidores se mostram céticos quanto aos planos da Stellantis para o mercado europeu e preocupados com os objetivos financeiros da Ferrari, que se prepara para lançar seu primeiro EV esportivo.
Embora algumas apostas tenham dado certo, como a gestora de investimentos Lingotto, com US$ 10 bilhões sob gestão, outras movimentações alimentaram críticas.
A venda da Gedi, grupo de mídia dono de jornais como La Repubblica e La Stampa, gerou forte repercussão.
O vazamento da negociação com um grupo grego levou a greves nas redações e acusações de traição aos valores históricos da imprensa italiana.
A primeira-ministra Giorgia Meloni atacou Elkann publicamente, criticando antigos governos de esquerda por não impedirem a venda de “joias da coroa” nacionais.
O editorial da La Repubblica não poupou ironia: se os valores da Juventus não estão à venda, por que os da imprensa estariam? A crítica expôs o contraste entre o apego simbólico ao clube de futebol e o pragmatismo nos negócios.
Na Stellantis, Elkann também precisou agir diretamente após a saída repentina do CEO Carlos Tavares.
Ele assumiu as rédeas temporariamente e acalmou o Parlamento italiano, prometendo manter empregos e preservar a presença da empresa no país.
Ainda assim, sob o novo comando de Antonio Filosa, a montadora enfrenta queda de participação de mercado e fechamento temporário de fábricas na Itália e França.
A fusão entre Fiat Chrysler e Peugeot, realizada em 2019, continua sendo alvo de críticas nacionalistas.
No automobilismo, a Ferrari encerrou o ano em crise. Apesar da contratação de Lewis Hamilton, a equipe terminou em quarto na Fórmula 1, sua pior posição desde 2020.
O próprio Elkann repreendeu os pilotos publicamente, pedindo “menos fala e mais foco”.
Mesmo com as adversidades, Elkann mantém o discurso de resiliência.
Em vídeo recente, declarou seu amor pela Juventus e reafirmou o compromisso com a reconstrução do clube, que amarga anos sem conquistas relevantes e prejuízos acumulados de quase €1 bilhão desde 2018.
O contraste com o legado de seu avô, Gianni Agnelli, é inevitável.
Enquanto Gianni liderou a Fiat no auge do apoio estatal à indústria, John assumiu em meio a um cenário de crise e conseguiu evitar o colapso apostando na internacionalização e na diversificação.
Hoje, porém, enfrenta resistência por ter buscado soluções fora da Itália.
“Ele sobreviveu, mas pagou um preço alto”, disse um ex-executivo do grupo. “Agora, tem o Judiciário, a mídia e o governo contra ele”.
A sobrevivência, que foi sua maior conquista, pode se transformar em seu maior desafio em 2026.
As batalhas futuras parecem menos sobre negócios e mais sobre identidade, legado e, sobretudo, controle da narrativa em uma Itália que resiste à globalização.
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