
A cidade de Salzburg, na Áustria, está sendo palco de uma disputa política e social pouco convencional.
Nada relacionado a criminalidade, poluição ou educação. O que está movimentando os debates por lá é o plano do herdeiro da Porsche, Wolfgang Porsche, de escavar um túnel em uma montanha considerada área pública.
O motivo? Ele quer construir uma garagem subterrânea para 12 carros sob sua mansão histórica no alto do Kapuzinerberg, uma colina arborizada que oferece vista panorâmica do centro da cidade.
A propriedade foi comprada em 2020 por cerca de 9 milhões de dólares. A mansão, construída no século XVII e que já pertenceu ao renomado escritor austríaco Stefan Zweig, fica em uma área onde moradores valorizam profundamente a história e o patrimônio local.
Atualmente, o acesso ao imóvel é feito por uma estrada estreita e sinuosa. A proposta de Porsche é criar um túnel direto do centro da cidade até uma garagem subterrânea em formato de cruz, eliminando o trajeto difícil.

O projeto até teve sinal verde inicial do antigo prefeito, em 2024. Mas a eleição de uma nova administração, de orientação mais à esquerda, colocou tudo em xeque.
Ingeborg Haller, do Partido Verde e uma das líderes da oposição, criticou abertamente a proposta: “O que choca as pessoas é que um indivíduo particular possa escavar uma montanha pública como se fosse seu quintal”, declarou ao Wall Street Journal.
Como a escavação exige alteração no plano diretor da cidade, a decisão final dependerá de uma votação no conselho municipal, prevista para o mês que vem. Por enquanto, o placar está indefinido.
Para tentar suavizar as críticas, Porsche ofereceu algumas concessões. Uma delas seria abrir parte da mansão ao público após a reforma. Outra ideia ventilada foi permitir que os vizinhos também usem o túnel para acessar suas casas.
No entanto, os críticos continuam batendo pesado. Alegam que o bilionário recebeu autorização para mexer em uma área pública com uma agilidade que projetos públicos de infraestrutura jamais teriam.
Também chamam atenção para a relação do atual prefeito, Bernhard Auinger, com o clã Porsche: no passado, ele fez parte do conselho da holding da montadora como representante sindical.
Embora ainda não tenha declarado seu voto, especula-se que ele possa se abster por causa do conflito de interesses.
Nem todo mundo em Salzburg está incomodado com a ideia. Alguns moradores apoiam a obra, enquanto outros simplesmente não veem problema.
“Isso é pura inveja. Salzburg tem questões muito mais importantes do que um túnel de garagem”, disse Hans Peter Reitter, ex-banqueiro e morador da cidade.
No fim das contas, o caso do túnel do bilionário virou um microcosmo das tensões que opõem riqueza, tradição, influência política e o direito ao espaço público. E agora, cabe aos vereadores decidir se a montanha de Salzburg deve ou não ceder espaço para mais uma excentricidade automotiva.

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