
No atual cenário geopolítico, a tensão entre Estados Unidos e China tem se refletido em diversas áreas — e uma das mais simbólicas é o setor automotivo.
A disputa lembra uma espécie de Guerra Fria 2.0, mas com carros elétricos no lugar de ogivas nucleares.
Se antes o Ocidente via a China como uma nação atrasada e dependente de tecnologia externa, hoje a situação se inverteu: é a indústria chinesa que assusta com sua capacidade de produção em massa, inovação e preços altamente competitivos.

É nesse contexto que surge a história curiosa e quase cinematográfica de John Karlin, um enfermeiro e analista de processos que resolveu desafiar a lógica protecionista dos EUA para conseguir importar legalmente um Wuling Macaron, uma versão refinada do microcarro elétrico chinês Hongguang Mini EV.
Karlin ficou intrigado ao descobrir que esse pequeno elétrico da joint venture entre GM e a chinesa SAIC estava superando o Tesla Model 3 em vendas no mercado chinês.
Movido pela curiosidade — e pelo desafio —, ele decidiu comprar um e descobrir por si mesmo o que tornava o carro tão popular.

Apesar de os Estados Unidos proibirem oficialmente a venda de carros chineses com base em “motivos de segurança nacional”, Karlin não se intimidou.
Após adquirir o carro por menos de 8 mil dólares, começou a buscar brechas na legislação americana que permitissem trazer o veículo para o país de forma legal.
E encontrou uma solução criativa: no estado de Oklahoma, onde reside, há normas específicas para veículos de baixa velocidade, como carrinhos de golfe e utilitários agrícolas.

Bastou limitar a velocidade máxima do Macaron a 35 mph (56 km/h) para que ele fosse aceito como um desses veículos, que não podem circular em rodovias.
Com isso, Karlin conseguiu registrar o Wuling Macaron e se tornou, ao que tudo indica, o primeiro americano a dirigir legalmente esse modelo em solo dos EUA.
Ao todo, entre taxas, transporte e documentação, o projeto lhe custou cerca de 13 mil dólares — ainda assim, um valor significativamente inferior ao de qualquer outro carro elétrico novo disponível no mercado americano.
Durante um ano, ele usou o veículo normalmente para ir ao trabalho e fazer compras, despertando a curiosidade até mesmo de policiais que o seguiam para ver de perto o pequeno carro chinês.

No fim das contas, Karlin acabou vendendo o Wuling para uma empresa americana, interessada em estudar o modelo e seus materiais. O próprio CEO da companhia viajou até Oklahoma City para conhecer o veículo pessoalmente.
A história de Karlin ganha ainda mais destaque quando se observa o aumento drástico das tarifas sobre carros chineses promovido por presidentes como Joe Biden e Donald Trump, com taxas que hoje chegam a 100%, inviabilizando qualquer tentativa semelhante de importação.

Em meio a um cenário onde a competição global por espaço no mercado de carros elétricos está cada vez mais acirrada, a jornada de Karlin é um lembrete de que a curiosidade e a perseverança individual ainda podem driblar até as maiores barreiras comerciais.
Mesmo que por pouco tempo, ele conseguiu provar que, com criatividade e conhecimento das leis, é possível enfrentar — e vencer — o sistema.

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