Em uma ação que mistura indignação com senso de urgência, um aposentado resolveu agir por conta própria diante da negligência das autoridades com a segurança de pedestres.
Kevin Cox, ex-agente de travessia escolar e defensor ativo da mobilidade urbana segura, decidiu improvisar uma faixa de pedestres com tinta em spray e marcador de linha em Charlottesville, no estado da Virgínia, após uma tragédia no local.
Em outubro de 2024, uma mulher de 64 anos foi atropelada e perdeu a vida no mesmo cruzamento onde ele desenhou a sinalização improvisada.
A iniciativa de Cox, no entanto, foi recebida com hostilidade pelo poder público.
Ao invés de reconhecer a urgência da situação, a prefeitura e o departamento de polícia local o acusaram de contravenção por destruição intencional de propriedade.
A polícia chegou a alegar que não conseguia determinar se a tinta usada era permanente, o que levou funcionários da cidade a cobrir as marcas com tinta preta.
Detalhe: Cox havia informado por e-mail ao administrador municipal que usou apenas giz em spray e solicitava uma faixa oficial no lugar.
“Agora há uma faixa de pedestre marcada na Second Street com a Elliot Avenue, apesar de você”, escreveu ele no e-mail. “É giz, não tinta. Por favor, substitua por uma faixa de verdade.”
O caso escancarou uma situação absurda: o mesmo sistema que ofereceu respostas lentas e ineficientes à tragédia anterior agora ameaça prender o cidadão que tentou evitar uma nova.
Se condenado, Cox pode pegar até 12 meses de prisão e pagar uma multa de 2.500 dólares.
A ironia é ainda maior quando se descobre que o motorista de 19 anos que atropelou e matou a mulher foi indiciado apenas por infração por não dar preferência ao pedestre.
Apesar disso, Cox segue firme em sua militância. “Eles me provocaram. Isso não vai me parar”, afirmou com convicção. Seu julgamento está marcado para o dia 14 de julho.
A comoção causada por sua atitude revela um sentimento coletivo de exaustão.
Uma pesquisa da Consumer Reports, realizada em 2023, mostrou que 48% dos entrevistados disseram não ter sido vítimas diretas de atropelamento, mas temem que isso aconteça com eles ou alguém da família.
Outros 18% responderam que já vivenciaram um acidente ou quase-acidente com veículos. Em meio a números alarmantes de mortes de pedestres nos Estados Unidos, a sensação de insegurança nas ruas parece ter atingido um limite crítico.
E, para muitos, Kevin Cox apenas deu forma visível a essa frustração.
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