
Apesar dos crescentes alertas de autoridades e analistas, os líderes empresariais da Alemanha seguem ampliando seus laços econômicos com a China — um movimento que pode colocar em risco a maior economia da Europa em caso de tensões geopolíticas mais severas, segundo a Bloomberg.
De acordo com o instituto Mercator (MERICS), os investimentos corporativos alemães no país asiático cresceram €1,3 bilhão entre 2023 e 2024, atingindo €5,7 bilhões no período.
O setor automotivo lidera esse movimento: entre 2020 e 2024, cerca de dois terços do capital alemão investido na China veio das montadoras.
Só entre 2023 e 2024, o setor automobilístico aumentou em 69% seus aportes no país, chegando a €4,2 bilhões.
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BMW, Mercedes-Benz e Volkswagen têm na China seu principal mercado, e continuam expandindo. A BMW, por exemplo, investiu €3,8 bilhões em uma fábrica de baterias em Shenyang, de onde já exporta SUVs elétricos para a Europa.
A Mercedes mudou sua cúpula estratégica anual para Pequim e desenvolve modelos elétricos exclusivos para o mercado chinês. A Volkswagen, por sua vez, se refere à China como seu “segundo mercado doméstico”.
Fora da indústria automotiva, empresas como a BASF também apostam alto: o grupo químico abriu recentemente um complexo de €8,7 bilhões em Guangdong, considerado seu maior investimento da história.
Enquanto isso, a Bosch reforça seus centros de desenvolvimento na China, ao mesmo tempo em que reduz postos de trabalho na Alemanha.

Apesar dos apelos públicos por “des-risco” — ou seja, uma redução da dependência estratégica em relação à China —, o governo de Berlim tem se mostrado hesitante em intervir nas decisões de investimento privado.
Durante encontros recentes, autoridades e empresários trocaram acusações, mas não chegaram a um consenso sobre quem pagaria o preço de uma ruptura com a China: empresas, com lucros menores? Trabalhadores, com demissões? Ou o consumidor, com preços mais altos?
Por enquanto, as empresas veem mais vantagens em continuar apostando na China do que em buscar alternativas mais caras e incertas.
No entanto, as consequências dessa dependência já estão aparecendo. No mês passado, uma paralisação nas entregas de chips da Nexperia — empresa chinesa com sede na Holanda — quase parou fábricas na Alemanha.
A situação expôs a vulnerabilidade de uma cadeia produtiva altamente concentrada e sem plano B.
O chanceler Friedrich Merz, que assumiu o governo em maio, tenta reverter esse cenário.
Criou um conselho nacional de segurança e pediu a elaboração de um plano de ação até o fim do ano para diversificar o fornecimento de matérias-primas.
Uma estratégia de segurança econômica mais ampla está prevista para o ano que vem.
Mas Merz foi direto com os empresários: “Se der errado, o risco é de vocês. Não venham pedir socorro ao governo.”
Para muitos especialistas, o tempo é curto. Pequenas e médias empresas já começam a se afastar da China. A fabricante de tecnologia a laser 4Jet, por exemplo, passou a priorizar mercados como o da Índia.
“É muito claro o que a China está fazendo. O governo alemão está sendo ingênuo”, criticou o CEO da 4Jet, Jörg Jetter.
A estratégia de Pequim — materializada no plano “Made in China 2025” — tem funcionado: o país já lidera setores como energia solar, baterias, veículos elétricos e disputa mercados com produtos altamente subsidiados.
Para empresas alemãs que insistem na dependência, a conta pode chegar de forma inesperada — seja por sanções, tensões diplomáticas ou decisões unilaterais do governo chinês.
E quando isso acontecer, o risco será só delas.
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