Quase uma década depois de a fraude do Dieselgate vir à tona, a Justiça da Alemanha finalmente impôs penas de prisão a ex-altos executivos da Volkswagen envolvidos no escândalo que abalou a indústria automotiva mundial.
Quatro ex-gerentes da montadora foram condenados nesta semana por fraude agravada, após anos de investigações sobre a instalação de softwares ilegais em milhões de veículos a diesel para burlar testes de emissões.
Entre os condenados está Jens Hadler, ex-chefe de desenvolvimento de motores diesel entre 2007 e 2011, que recebeu a pena mais dura: quatro anos e meio de prisão.
Segundo o juiz Christian Schütz, Hadler tinha poder de decisão suficiente para ter encerrado o esquema, mas preferiu manter o silêncio enquanto mais de dois milhões de carros eram vendidos com dispositivos ilegais.
Outro nome de peso no veredicto foi Hanno Jelden, também engenheiro de alto escalão, que foi sentenciado a dois anos e sete meses de prisão por seu papel na venda de cerca de três milhões de veículos fraudados.
Heinz-Jakob Neusser, ex-chefe de desenvolvimento de motores da VW, recebeu pena suspensa de um ano e três meses, pois ficou provado que só teve conhecimento pleno da manipulação em 2013.
Um quarto condenado, identificado apenas como Thorsten D., colaborou com as investigações desde o início e teve pena suspensa de um ano e dez meses.
O escândalo envolveu cerca de nove milhões de carros em todo o mundo, sendo que a Justiça alemã se concentrou em aproximadamente quatro milhões de unidades durante o julgamento.
A fraude consistia na instalação de “defeat devices” — softwares que detectavam quando o carro estava sendo testado em laboratório e reduziam as emissões de poluentes temporariamente.
Na prática, os veículos emitiam níveis muito superiores de óxidos de nitrogênio quando operavam em situações reais de uso.
Schütz afirmou que a decisão de fraudar os testes foi tomada em uma reunião ainda em 2006, da qual Jelden participou ativamente. “É cristalino que isso violava a lei”, declarou o juiz durante a leitura da sentença.
Ele também ressaltou que outros executivos e engenheiros da Volkswagen contribuíram para o esquema, mas os quatro condenados tinham papéis de liderança e participaram de maneira deliberada.
A decisão marca um avanço tardio da Justiça alemã, que vinha sendo criticada por sua lentidão em responsabilizar os envolvidos. Enquanto isso, nos Estados Unidos, diversos executivos foram rapidamente julgados e condenados.
Martin Winterkorn, ex-CEO da Volkswagen, deveria ter sido julgado junto ao grupo, mas o processo foi suspenso por motivos de saúde. Até hoje, Winterkorn nega qualquer envolvimento direto.
O Dieselgate já custou mais de €33 bilhões à Volkswagen em multas, reparações e acordos judiciais, com outros €9 bilhões ainda em disputa em uma ação coletiva de investidores na Alemanha.
A empresa também pagou €1 bilhão para encerrar a investigação criminal em 2018. Apesar disso, 31 pessoas ainda aguardam julgamento em Braunschweig, e a próxima audiência está marcada para novembro deste ano.
Para muitos, as condenações desta semana são apenas o começo do que ainda está por vir. Mas, mesmo após tantos anos, o Dieselgate continua a lançar uma longa sombra sobre a credibilidade da indústria automotiva alemã — e da própria Volkswagen.
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