Se aqui no Brasil, é muito difícil para o dono de um EV achar um carregador que esteja funcionando e sem fila para usar, logo nos Estados Unidos a coisa vai ficar parecida.
O mercado de veículos elétricos segue em expansão nos Estados Unidos, mas a infraestrutura que deveria acompanhar esse crescimento começa a dar sinais alarmantes de colapso.
Enquanto mais americanos optam por deixar os motores a combustão para trás, os carregadores rápidos — essenciais para a rotina desses novos motoristas — estão se tornando cada vez mais escassos.
E o cenário deve piorar nos próximos anos.
Segundo dados da Bloomberg, a instalação de carregadores rápidos nos EUA caiu mais de 21% no primeiro trimestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano passado.
Como reflexo, a expectativa de novas unidades para este ano despencou de 360 mil para apenas 285 mil.
Para os analistas, se o ritmo atual se mantiver, a previsão de crescimento da infraestrutura de recarga até 2030 pode ser revista para baixo em até 30%.
O impacto já começa a ser sentido na prática.
Apesar de haver cerca de 208 mil carregadores públicos nos EUA, o Departamento de Energia aponta que seria necessário adicionar 174 mil pontos por ano apenas para acompanhar o ritmo de crescimento da frota elétrica e híbrida.
A matemática é clara: a conta não fecha — e o problema só tende a se agravar.
Grande parte do retrocesso na expansão dos carregadores se deve à suspensão dos repasses federais para infraestrutura elétrica determinada por Donald Trump logo após reassumir a presidência.
O congelamento afetou diretamente o Programa Nacional de Infraestrutura de Veículos Elétricos (NEVI), que previa o investimento de US$ 5 bilhões em cinco anos para estruturar uma rede de recarga interestadual.
Com o dinheiro bloqueado, os estados ficaram sem verba para cumprir seus planos de eletrificação, e os investimentos privados começaram a recuar diante da insegurança política.
Para o analista Ash Wang, da BloombergNEF, “a falta de alinhamento entre política e demanda pode transformar a infraestrutura no elo mais fraco da transição elétrica”.
A decisão de Trump foi defendida por representantes da Casa Branca, que classificaram os projetos anteriores como “golpes verdes”. “A iniciativa ridícula de Biden prometeu muito e entregou nada, enquanto o contribuinte arcava com os custos de acordos para beneficiar os aliados democratas”, afirmou Harrison Fields, porta-voz do governo.
“Trump foi eleito para desmontar essa farsa verde e está comprometido com isso.”
Mas fora da retórica política, os números não mentem: os EVs continuam vendendo bem, mas o suporte logístico que garantiria seu funcionamento diário está estagnado.
Segundo a S&P Global, o fim do apoio governamental reduz a atratividade para novos investidores no setor de carregamento, abrindo espaço para um futuro de escassez e frustração entre consumidores.
A ironia é que, enquanto estados como a Califórnia já superaram o número de bombas de gasolina com carregadores, apenas 10% desses pontos são realmente rápidos — ou seja, aptos a recarregar um carro em poucos minutos.
A maioria dos motoristas ainda depende de locais de recarga lenta, que podem tomar horas para completar a bateria.
A menos que haja uma reviravolta nas políticas públicas e uma retomada dos investimentos no setor, os Estados Unidos correm o risco de ver sua revolução elétrica travar por falta de infraestrutura.
A venda dos carros pode continuar em alta, mas sem onde conectá-los, o sonho elétrico americano pode acabar ficando sem carga.
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