
A Slate Auto, uma startup americana que mal nasceu e já virou queridinha de quem busca simplicidade e preço baixo, promete entregar uma picape elétrica minimalista por menos de US$ 20 mil.
Para muita gente, é como um retorno aos tempos em que carro era ferramenta, não símbolo de status.
Mas essa promessa está prestes a ser ameaçada por mudanças políticas: o crédito fiscal federal de US$ 7.500 que viabilizava o preço agressivo será encerrado no dia 30 de setembro, por decisão do presidente Donald Trump.
Entre os interessados está Will Haseltine, técnico de instrumentos musicais de Memphis, que se encantou pelo modelo compacto, interior espartano e janelas manuais — algo impensável nos carros atuais.
“Foi a primeira vez que vi um carro elétrico que eu realmente queria e podia pagar”, disse ele. Sem o incentivo, no entanto, a picape pode sair da sua realidade financeira.
Com mais de 100 mil reservas e US$ 700 milhões captados, incluindo investimento de Jeff Bezos, a Slate já chamou atenção até da concorrência. Ford e Stellantis elogiaram publicamente a proposta.
Mas o desafio é grande. O mercado de elétricos nos EUA está esfriando, a competição é feroz e a lucratividade ainda parece distante, até mesmo na China, onde os EVs baratos proliferam com incentivos e escala industrial.
A proposta da Slate aposta em algo raro no setor: simplicidade radical.
A picape é pouco maior que um Honda Civic hatch, tem dois lugares, carroceria cinza de material composto (sem pintura) e chega ao cliente sem som ou vidros elétricos — tudo isso pode ser adicionado depois, por um custo extra.
A ideia é reduzir complexidade, com apenas 500 peças por veículo e um único modelo base, facilitando produção e controle de custos.
A fábrica será instalada em uma antiga instalação de catálogos em Warsaw, Indiana. A ausência de pintura, os painéis compostos e a montagem simplificada são estratégias para evitar os altos investimentos típicos de montadoras tradicionais.
Por outro lado, o desafio é cultural: consumidores americanos, mesmo nos segmentos mais baratos, têm optado por versões recheadas de opcionais. Em média, gastam 33% a mais que o preço-base dos veículos, segundo a Edmunds.
Será que estão dispostos a voltar no tempo e abrir mão dos confortos modernos em troca de economia?
O momento pode até ser favorável. Com os preços médios de veículos novos acima de US$ 45 mil e tarifas ameaçando os modelos mais acessíveis importados do México e Coreia do Sul, a proposta da Slate aparece como uma possível salvação para quem quer um carro novo e barato.
Como diz o analista Paul Waatti, “há uma demanda crescente, especialmente entre os mais jovens, por carros mais honestos, modulares e sem exageros”.
Enquanto startups como a Telo seguem pelo mesmo caminho e a Tesla recua da ideia de um modelo de entrada, a Slate se posiciona como uma alternativa ousada, enxuta e com foco total na acessibilidade.
Mas tudo isso depende de uma variável crítica: se o governo americano continuar retirando incentivos, talvez a picape da Slate acabe sendo apenas mais uma boa ideia que não saiu da garagem.
[Fonte: Reuters]
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