
A outrora imbatível indústria automotiva alemã vive um dos momentos mais delicados de sua história recente.
Com quedas expressivas nas vendas na China, tarifas elevadas nos EUA e uma estagnação preocupante na Europa, montadoras como Mercedes-Benz, BMW, Porsche e Volkswagen enfrentam um cenário de retração profunda.
Ele está marcado por cortes de produção, demissões em massa e dúvidas quanto ao futuro da Alemanha como polo industrial.
O alerta mais recente veio da Porsche, que se juntou a BMW e Mercedes ao reportar forte recuo nas vendas no mercado chinês.
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A ascensão acelerada de marcas locais como BYD e Xiaomi, que vêm ganhando terreno com veículos elétricos de alta tecnologia e preços competitivos, colocou os fabricantes alemães na defensiva.

A BMW, por exemplo, reduziu sua projeção de lucros após um desempenho decepcionante na China — maior mercado automotivo do planeta.
A situação complica ainda mais diante das tarifas impostas pelos EUA e da demanda morna na Europa, criando um efeito dominó nas três principais regiões de atuação das marcas alemãs.
Mesmo após investir bilhões de euros no desenvolvimento de tecnologias para veículos elétricos, os primeiros modelos não empolgaram o mercado, e as próximas gerações só devem chegar em 2026.
Enquanto isso, fábricas reduzem turnos, projetos são engavetados e cerca de 55 mil empregos já foram eliminados desde 2023. A expectativa é de quase 100 mil demissões até 2030.
A Volkswagen, maior montadora da Alemanha, está cortando produção global e enxugando o quadro de funcionários.

A Bosch pretende eliminar 18.500 vagas, enquanto empresas como ZF, Continental, Schaeffler, Audi e até a Ford também anunciaram reduções significativas.
O custo de produção em território alemão — com mão de obra mais cara que em países vizinhos como a República Tcheca — tem sido apontado como um dos grandes entraves.
O clima de urgência levou líderes do setor a se reunirem com o chanceler Friedrich Merz para exigir ações concretas.
O governo anunciou €3 bilhões em incentivos para veículos elétricos até 2029 e discute afrouxar as regras da União Europeia sobre a eliminação de carros a combustão, mas até agora os efeitos têm sido tímidos.
A produção industrial alemã registrou em setembro sua maior queda desde o início de 2022, com destaque negativo para a indústria automotiva, que despencou 18,5%.

A comparação com a derrocada da Nokia, que dominava o mercado de celulares antes de ser engolida por rivais mais ágeis, passou a circular entre analistas e executivos.
“Estamos diante de uma tempestade perfeita”, afirmou Jens Suedekum, conselheiro do ministro das Finanças alemão. “O mercado chinês está encolhendo, a competição está brutal, e os EUA deixaram de ser uma alternativa viável.”
Montadoras como a BMW ainda apostam em uma virada com a linha Neue Klasse, que promete EVs mais avançados a partir de 2026.
A Volkswagen tenta se reaproximar do público asiático por meio de parcerias com empresas locais de software e eletrificação. E no mercado europeu, o grupo VW espera superar Tesla e Stellantis em vendas de elétricos, após uma atualização em sua linha.
Ainda assim, o temor de que a Alemanha perca sua posição estratégica como centro industrial global ganha força.
A crise não atinge apenas fábricas, mas ameaça todo o ecossistema que sustenta a indústria automotiva europeia, com repercussões que podem afetar da Espanha à Eslováquia.
Como alertou Benjamin Krieger, secretário-geral da associação de fornecedores automotivos europeus (CLEPA): “Não é só sobre carros. É sobre a estrutura social, econômica e tecnológica da Europa”.
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