A revolução dos veículos elétricos na China tem sido marcada por avanços tecnológicos, ambições ecológicas e… uma feroz guerra de preços.
Ao longo dos últimos dois anos, a competição desenfreada por participação de mercado transformou o setor automotivo chinês em uma espécie de liquidação permanente, com carros sendo vendidos quase como se fossem eletrodomésticos de prateleira.
Mas agora, o governo decidiu intervir.
Preocupadas com os efeitos dessa corrida desenfreada, autoridades chinesas convocaram executivos das principais montadoras para reuniões em Pequim.
A ordem foi clara: “autorregulem-se”.
A mensagem partiu diretamente de órgãos reguladores do governo central, que alertaram sobre os perigos de uma “competição involutiva” — um termo que o próprio primeiro-ministro Li Qiang usou recentemente em um discurso para descrever o cenário em que empresas se prejudicam mutuamente ao reduzir preços de forma insustentável.
A Associação Chinesa de Fabricantes de Automóveis (CAAM) também fez coro com os alertas oficiais. Segundo a entidade, a contínua guerra de preços entre as montadoras tem promovido uma “competição desordenada” e gerado pânico no mercado.
Sem citar nomes, a associação deu uma indireta clara à BYD, apontando que “determinada montadora” tem liderado cortes agressivos que foram seguidos por várias concorrentes.
Nos bastidores, o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação já prepara medidas mais rígidas para limitar o que classificam como “competição improdutiva”.
O objetivo é reforçar leis de concorrência justa, mas especialistas duvidam da eficácia de qualquer tentativa de controle. Há quem acredite que o pior ainda está por vir.
He Xiaopeng, CEO da Xpeng, não esconde seu ceticismo. Para ele, a atual disputa é apenas o “aperitivo” do que se aproxima.
“A competição ficará ainda mais intensa nos próximos cinco anos”, afirmou em entrevista. Analistas do banco Nomura compartilham essa visão pessimista e alertam que o excesso de oferta pode aprofundar a crise de preços nos próximos trimestres.
A realidade é que os preços dos veículos novos já caíram drasticamente. Desde 2022, o valor médio de um carro novo na China recuou 19%, chegando a cerca de 165 mil yuans — aproximadamente 22.900 dólares.
Se, por um lado, os consumidores agradecem, por outro, o setor como um todo começa a mostrar sinais de fragilidade.
A grande dúvida é se esse modelo é sustentável. A busca desenfreada por fatias de mercado está forçando fabricantes a reduzir margens, cortar custos e, em alguns casos, operar no vermelho.
Mesmo com subsídios e incentivos do governo em anos anteriores, o ritmo atual levanta temores de uma bolha que pode estourar.
A China, que se orgulha de liderar a transição global para os EVs, agora precisa encontrar um equilíbrio delicado: continuar promovendo a eletrificação sem destruir a saúde financeira das empresas que a tornaram possível.
E para isso, o fim da guerra de preços pode ser apenas o começo de uma nova fase — menos agressiva, mas talvez mais estável — para a maior indústria automotiva do mundo.
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