Na Flórida de Ron DeSantis, ser parado numa blitz de trânsito pode significar muito mais do que uma simples advertência.
O estado adotou uma abordagem radical de combate à imigração ilegal, transformando operações rotineiras nas estradas em verdadeiras ações de fiscalização migratória.
Sob o programa federal 287(g), patrulheiros rodoviários e até inspetores agrícolas foram treinados para agir como agentes do ICE — o que está provocando polêmica e temor generalizado.
Hoje, quase todos os 1.819 patrulheiros estaduais da Flórida — mais precisamente 1.774 — estão credenciados para executar funções que antes eram exclusivas do governo federal.
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Desde março, eles já realizaram mais de 3.500 detenções em operações com foco migratório.
Segundo Dave Kerner, chefe do Departamento de Segurança nas Rodovias e Veículos da Flórida, o plano é que esse modelo se torne exemplo para outros estados.
Mas organizações de direitos civis, como a ACLU, alertam que a iniciativa abre espaço para práticas de discriminação e abordagens baseadas em perfil racial, usando infrações leves como pretexto para investigações migratórias.
O estopim para a intensificação do programa veio após um acidente fatal ocorrido em 12 de agosto. Um motorista em situação irregular, Harjinder Singh, fez uma conversão proibida, o que levou uma van a colidir com seu caminhão.
Três pessoas morreram. Singh, que possuía carteira de motorista comercial emitida por Califórnia e Washington mesmo sem saber inglês adequadamente, virou símbolo da campanha por mais rigor.
Em resposta, o procurador-geral da Flórida, James Uthmeier, atacou os estados que “ignoram as regras” e ameaçou retirar sua autoridade federal de transporte.
Além disso, decretou que os 23 postos de inspeção agrícola da Flórida agora também funcionarão como postos de checagem de imigração, verificando tanto produtos quanto a situação legal de motoristas.
O governador Ron DeSantis tem usado a pauta como vitrine política. Ele celebrou a prisão de quase 200 pessoas durante uma semana de operações no Panhandle e a realização do primeiro voo de deportação partindo de Tallahassee.
Para seus apoiadores, trata-se de uma questão de segurança pública — especialmente envolvendo caminhões de carga conduzidos por imigrantes em situação irregular.
“Muita gente está dirigindo sem nunca ter aprendido de fato ou sem entender as leis. Isso é um risco enorme”, disse um caminhoneiro à CBS Miami.
No entanto, críticos apontam que a medida é exagerada, criando clima de medo entre trabalhadores essenciais, muitos dos quais são imigrantes que mantêm setores inteiros da economia floridiana funcionando.
O investimento do estado nessa cruzada não é pequeno: foram destinados US$ 300 milhões para reforçar ações de detenção e deportação. Novos centros de detenção foram montados às pressas e a fiscalização nas estradas agora é tão rígida quanto controversa.
A grande questão que permanece é se essa nova abordagem vai realmente se consolidar como modelo nacional — ou se será derrubada por uma avalanche de ações judiciais e reação política.
O que já é certo é que dirigir pelas estradas da Flórida, hoje, significa muito mais do que seguir as regras de trânsito. É, para muitos, cruzar uma linha tênue entre a vida normal e a deportação.
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