
O número de carros retomados por falta de pagamento nos Estados Unidos atingiu níveis que não se viam desde os anos seguintes à crise financeira de 2008.
A situação atual reflete o peso crescente que juros altos, inflação persistente e veículos com preços cada vez mais salgados estão impondo às famílias americanas, independentemente de classe social ou modelo de carro.
Segundo estimativa divulgada pela Cox Automotive, cerca de 1,73 milhão de veículos foram retomados por instituições financeiras em 2024, o que representa um aumento de 16% em relação a 2023 e impressionantes 43% em comparação com 2022.
Para se ter ideia, a última vez que esse patamar foi alcançado foi em 2009, auge do impacto da bolha imobiliária nos EUA.
Mesmo com esse crescimento, é importante destacar que a base total de financiamentos também aumentou. Em 2009, cerca de 53,7 milhões de americanos possuíam contratos de financiamento de veículos.
Hoje, esse número ultrapassa 74 milhões. Assim, apesar do volume alto de retomadas, a taxa de inadimplência atual gira em torno de 2,3% — menor do que os 3,3% registrados em 2009, mas ainda o pior índice desde 2019.
Outro dado preocupante é o crescimento da inadimplência entre consumidores com crédito considerado fraco. Segundo a agência Fitch Ratings, em janeiro de 2024, 6,56% desses tomadores estavam com pagamentos em atraso há mais de 60 dias — um recorde histórico.
Com o fim das medidas emergenciais adotadas durante a pandemia e o custo de vida cada vez mais alto, muitos consumidores não estão conseguindo manter seus compromissos em dia.
E o mercado de carros, tradicionalmente visto como um termômetro da saúde financeira das famílias, está refletindo essa pressão.
Além disso, o cenário fica ainda mais desafiador quando se analisa o custo atual de um carro novo. De acordo com a Cox Automotive, o valor médio das parcelas mensais atingiu US$ 748.
Isso se deve, em parte, à média de juros para financiamentos, que chegou a 10,16% em fevereiro — o maior índice em quatro meses.
E com os novos 25% de tarifas anunciadas pelo ex-presidente Donald Trump sobre carros e peças importadas, os preços podem subir ainda mais, com impacto direto nas montadoras e no bolso do consumidor.
A falta de opções acessíveis também colabora para o problema. Modelos populares e baratos estão desaparecendo das concessionárias ou ficando com preços impraticáveis, fazendo com que o consumidor se endivide mais para levar o carro para casa.
O Nissan Versa, por exemplo, é atualmente o único carro novo disponível nos EUA com preço abaixo de US$ 20 mil.
A combinação de crédito mais restrito, custos crescentes e incertezas econômicas está tornando o mercado automotivo um terreno instável.
Segundo uma pesquisa do Federal Reserve de Nova York, os consumidores já demonstram preocupação crescente com o futuro financeiro e indicam que grandes compras, como veículos, estão sendo reavaliadas ou adiadas.
Embora os americanos ainda estejam gastando, o clima é de cautela. Como afirmou Amias Gerety, sócio do fundo QED Investors, “o consumo continua, mas é possível notar uma hesitação crescente, principalmente quando se trata de itens de alto valor”.
Em resumo, o aumento das retomadas de veículos é mais um reflexo de um cenário financeiro complicado, que ainda deve se desdobrar nos próximos meses — com impacto direto nas concessionárias, montadoras e, claro, no bolso de quem precisa de um carro para trabalhar, estudar ou simplesmente se locomover.

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