As tarifas iminentes sobre importações do Canadá e do México podem aumentar os preços dos carros nos Estados Unidos em até US$ 12 mil, pressionando ainda mais os consumidores e causando um efeito dominó na complexa cadeia de suprimentos automotiva que abrange toda a América do Norte.
De acordo com um estudo do Anderson Economic Group, uma consultoria automotiva de Michigan, o custo de produção de um utilitário crossover subirá pelo menos US$ 4.000, enquanto a fabricação de um veículo elétrico pode ficar três vezes mais cara, chegando aos citados US$ 12.000.
Esses custos adicionais, segundo a análise, serão inevitavelmente repassados ao consumidor final.
Patrick Anderson, CEO da consultoria, alerta que aumentos de preço dessa magnitude terão impacto imediato nas vendas dos modelos mais afetados pelas novas tarifas.
A medida proposta pelo governo dos EUA, que prevê tarifas de 25% sobre importações do Canadá e do México, pode agravar ainda mais a crise de acessibilidade automotiva, já que os preços médios dos veículos novos estão se aproximando de 50 mil dólares, um aumento de mais de 20% nos últimos cinco anos.
Após conceder um mês de alívio, o presidente Donald Trump anunciou na semana passada que as tarifas entrarão em vigor a partir de 4 de março.
A decisão ignora os apelos de executivos da indústria, que alertam sobre os danos que a medida pode causar nas vendas, nos lucros e no emprego no setor. Modelos populares, como a picape Chevrolet Silverado e o SUV Ford Bronco Sport, serão diretamente impactados pelas novas taxas de importação.
Na tentativa de evitar consequências drásticas, executivos da General Motors, Ford e Stellantis participaram recentemente de uma reunião virtual com o Departamento de Comércio dos EUA para alertar sobre os impactos econômicos negativos da medida.
Representantes da Ford e da Stellantis argumentaram que o governo deveria priorizar veículos importados que não possuem qualquer conteúdo de peças fabricadas nos EUA, em vez de taxar modelos que já fazem parte da cadeia de produção integrada da América do Norte.
Ameaça aos modelos fabricados no Canadá e no México
Além de aumentar os preços, as tarifas podem forçar as montadoras a interromper a produção de certos modelos que dependem fortemente de peças fabricadas no Canadá e no México.
Mesmo que as taxas sejam temporárias, as montadoras já começaram a adotar medidas para mitigar os prejuízos.
O estudo do Anderson Economic Group estimou o impacto das tarifas sobre modelos fabricados na América do Norte. Um SUV de grande porte com grande participação de peças mexicanas pode ficar até 9 mil dólares mais caro, enquanto uma picape pode ter um aumento de preço de 8 mil dólares.
As vendas de automóveis nos EUA já estão em queda devido aos altos preços e às taxas de financiamento elevadas.
Segundo Dan Hearsch, líder da área automotiva da consultoria AlixPartners, as tarifas podem reduzir as vendas em até 500 mil veículos por ano, pois algumas montadoras deixarão de produzir certos modelos no Canadá e no México e tentarão transferir a produção para os EUA.
No entanto, os modelos que não puderem ser montados nos EUA poderão simplesmente desaparecer temporariamente do mercado.
A Ford, por exemplo, fabrica no México a picape Maverick, o SUV compacto Bronco Sport e o elétrico Mustang Mach-E. O CEO da empresa, Jim Farley, já havia alertado que uma tarifa de 25% sobre produtos do Canadá e do México “abriria um buraco na indústria automotiva dos EUA como nunca visto antes”.
A General Motors fabrica a Chevrolet Silverado em fábricas nos três países, enquanto a Stellantis produz as picapes Ram nos EUA e no México.
Algumas montadoras podem tentar transferir a produção para os Estados Unidos, mas, segundo Anderson, isso pode levar ao desaparecimento de algumas versões e acabamentos desses modelos no curto prazo.
Estoques e contramedidas das montadoras
As tarifas foram justificadas pelo governo Trump como uma resposta ao fluxo de imigrantes ilegais e ao tráfico de drogas vindos do México e do Canadá.
No entanto, especialistas acreditam que as taxas podem ser temporárias, dependendo do sucesso dos países vizinhos em atender às exigências do presidente dos EUA.
Enquanto aguardam uma definição mais clara sobre a duração das tarifas, as montadoras já estão tomando medidas emergenciais para evitar um colapso na produção.
A Ford, por exemplo, está acelerando o transporte de motores de sua fábrica em Windsor, Ontário, para os EUA, com a intenção de evitar a taxação. O sindicato local informou que a empresa também garantiu espaço extra em armazéns nos EUA para armazenar motores e peças antes que as tarifas entrem em vigor.
Outras montadoras estão pressionando fornecedores a antecipar a produção e enviar peças rapidamente para os Estados Unidos, criando estoques que possam servir como amortecedor inicial contra os aumentos de custo.
Embora o impacto financeiro exato ainda seja incerto, especialistas alertam que as tarifas podem causar um grande prejuízo às montadoras, especialmente considerando que muitas já enfrentam margens de lucro apertadas e desafios financeiros na transição para veículos elétricos.
Com o mercado automotivo já em alerta, o foco dos executivos agora é tentar reduzir os danos causados pelas tarifas. Questões de longo prazo estão sendo deixadas de lado enquanto as empresas tentam se preparar para o impacto iminente das novas taxas.
“Está todo mundo em pânico”, disse Hearsch.
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