
Os telefones não param de tocar no escritório de Frank Eckard, CEO da fabricante alemã de ímãs Magnosphere.
Do outro lado da linha, montadoras e fornecedores automotivos buscam, em total desespero, alternativas para manter suas linhas de montagem funcionando.
A razão? A China impôs novas restrições à exportação de ímãs feitos com terras raras – componentes essenciais para o funcionamento de praticamente todos os veículos modernos.
Segundo Eckard, algumas empresas já admitem que podem ser forçadas a interromper suas atividades até meados de julho. “A indústria automotiva inteira está em pânico total”, afirma.
“Estão dispostas a pagar qualquer preço.”
A situação é tão crítica que especialistas do setor já falam em um terceiro grande colapso na cadeia de suprimentos em apenas cinco anos – depois da crise dos semicondutores entre 2021 e 2023, e dos fechamentos provocados pela pandemia em 2020.
As novas restrições da China atingem diretamente um componente que parece pequeno, mas é indispensável: ímãs de terras raras.
Presentes em espelhos retrovisores, alto-falantes, sensores de freio e combustível, bombas de óleo e dezenas de outros sistemas, esses ímãs garantem o funcionamento de carros elétricos e a combustão.
O problema? A China domina de forma quase absoluta esse mercado. Segundo a consultoria AlixPartners, o país asiático controla 70% da extração global de terras raras, 85% da capacidade de refino e cerca de 90% da produção de ligas metálicas e ímãs.
Na prática, o destino de fábricas inteiras na Europa e nos Estados Unidos está nas mãos de um pequeno grupo de burocratas chineses encarregados de liberar – ou não – permissões de exportação.
Algumas unidades de fornecedores europeus já foram fechadas, segundo a associação CLEPA, e novas paralisações são esperadas nas próximas semanas.
A escassez atinge tanto veículos a combustão quanto elétricos, mas os EVs são os mais afetados: utilizam, em média, o dobro de terras raras em comparação aos modelos tradicionais.
Mesmo com iniciativas como o “Critical Raw Materials Act” da União Europeia e projetos de empresas como a americana Niron ou a britânica Warwick Acoustics para desenvolver ímãs alternativos, soluções em escala industrial ainda estão a anos de distância.
Enquanto isso, as montadoras voltam ao modo de crise.
Algumas estão considerando estocar ímãs e peças críticas. Outras cogitam montar carros incompletos e deixá-los parados até que os componentes estejam disponíveis – como ocorreu durante a escassez de chips.
A dependência não se limita aos ímãs. Um relatório da Comissão Europeia de 2024 apontou que a China controla mais da metade do fornecimento global de 19 matérias-primas estratégicas, incluindo grafite, manganês e alumínio.
Segundo Andy Leyland, especialista em cadeias de suprimentos, a atual crise é só um sinal de alerta. “Qualquer um desses elementos pode ser usado como arma política”, alerta.
No meio dessa tempestade, uma coisa é certa: a lição da crise dos semicondutores parece não ter sido aprendida, e a indústria automotiva global pode estar prestes a enfrentar mais um capítulo turbulento na sua já instável cadeia de produção.
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