A transição dos muscle cars para o universo dos elétricos parece estar enfrentando seus primeiros grandes tropeços.
O Dodge Charger Daytona, um dos símbolos da nova era da eletrificação para a marca norte-americana, protagonizou uma situação alarmante durante um teste de longa duração realizado pela equipe do site automotivo Edmunds, nos Estados Unidos.
Segundo o relato dos avaliadores, o Charger elétrico, avaliado em aproximadamente 86 mil dólares na versão Redeye com pacote Scat Pack, acelerou por conta própria, sem que o motorista pressionasse o pedal.
O incidente ocorreu enquanto um dos jornalistas dirigia com seu filho no banco do passageiro.
Após alertas no painel e perda do sistema de frenagem regenerativa, o carro simplesmente começou a ganhar velocidade de forma inesperada.
O susto foi grande, mas, felizmente, a potência máxima de 670 cavalos não foi totalmente acionada.
Mesmo assim, o episódio levanta sérias dúvidas sobre a confiabilidade dos sistemas que comandam os EVs mais recentes — principalmente quando falamos de modelos que se propõem a traduzir um legado visceral de desempenho para uma plataforma totalmente digital.
Embora a Dodge ainda não tenha emitido uma resposta oficial, os relatos em fóruns de proprietários indicam que o problema não é isolado.
Alguns donos já haviam mencionado comportamentos semelhantes, o que sugere que a montadora estava ciente da falha antes do episódio com a Edmunds.
Especialistas apontam que, diferentemente dos carros a combustão, os elétricos operam com uma arquitetura profundamente integrada por software. Isso significa que qualquer conflito entre módulos pode gerar reações imprevisíveis.
Ainda que testes exaustivos sejam exigidos antes do lançamento, a realidade é que muitas falhas só aparecem na prática, quando os carros enfrentam o cotidiano dos consumidores.
No caso do Charger testado, a equipe da Edmunds conseguiu retomar o controle após realizar um reset parcial do sistema.
A falha, até o momento, não voltou a ocorrer.
No entanto, um levantamento no site da NHTSA — órgão que regula a segurança veicular nos EUA — mostra que o Charger EV já acumula 25 comunicações técnicas emitidas pela fabricante, a maioria relacionada ao sistema elétrico.
A boa notícia, se é que podemos chamar assim, é que muitos desses problemas são resolvidos via atualização de software.
O que preocupa, porém, é o risco envolvido quando falhas como essa surgem em modelos de alto desempenho. Uma aceleração súbita pode ser catastrófica em determinadas situações de tráfego.
Ainda estamos nos primeiros capítulos da era dos carros definidos por software, e o episódio serve como um alerta claro de que a transição para veículos elétricos requer mais do que baterias potentes e motores silenciosos.
É preciso garantir que o código que comanda essas máquinas seja tão robusto quanto os V8 do passado. Afinal, quando um carro acelera sozinho, não estamos mais falando de desempenho — estamos falando de segurança.
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