O cenário para os tradicionais táxis londrinos está longe de ser animador. Um novo relatório aponta que, se nada for feito, os icônicos black cabs podem desaparecer das ruas da capital inglesa em menos de duas décadas.
Pressões econômicas, burocráticas e tecnológicas estão minando uma profissão que remonta aos tempos de Oliver Cromwell.
Entre os principais fatores de risco está a queda no número de motoristas após a pandemia de Covid-19. Muitos profissionais deixaram a atividade durante os longos meses de restrições e não retornaram.
Para piorar, o crescimento acelerado de serviços por aplicativo — como o Uber, que já conta com cerca de 96 mil veículos cadastrados, frente a apenas 14.500 táxis licenciados — colocou ainda mais pressão sobre o setor.
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Outro obstáculo é o altíssimo custo operacional dos novos táxis elétricos ou híbridos. Modelos como o LEVC TX, com motor de autonomia estendida, podem chegar à marca de £100 mil (R$ 760 mil) quando financiados, segundo especialistas do setor.
A situação ficou ainda mais difícil com o fim do programa de recompra de táxis antigos e com a redução no subsídio para aquisição de veículos novos.
A famosa exigência do “Knowledge”, o exame que exige que futuros taxistas memorizem rotas, ruas e pontos de interesse de toda a cidade, também tem sido apontada como uma barreira de entrada — em especial para os jovens que poderiam renovar a frota de profissionais.
Ainda assim, há sinais de reação. A Transport for London (TfL), autoridade que regula o transporte na cidade, apresentou recentemente um plano com 14 ações para revitalizar o setor.
Entre as medidas prometidas estão a manutenção do acesso dos táxis às faixas exclusivas de ônibus, ações contra motoristas que operam fora das áreas licenciadas, melhorias na formação dos profissionais e uma revisão na estrutura do próprio “Knowledge”, para torná-lo menos intimidante.
Há também propostas para aliviar os custos de operação, como pressionar o governo a estender o subsídio para táxis plug-in, reduzir o imposto (VAT) sobre carregadores públicos e eliminar tributos na compra de novos veículos.
Mesmo diante das dificuldades, há quem enxergue um futuro promissor para a profissão. Com a volta gradual dos trabalhadores aos escritórios e uma mudança no perfil do público, os táxis estão reconquistando passageiros que haviam migrado para os apps.
Muitos clientes mais jovens já não enxergam tanta vantagem no sistema de chamadas via celular, que ficou caro e menos eficiente.
Alguns motoristas relatam, no entanto, frustração com as restrições de trânsito. Um deles criticou duramente a prefeitura por limitar o acesso de táxis a determinadas vias, obrigando desvios que aumentam o tempo e o valor das corridas.
“Uma viagem que antes custava £15 agora custa £25. Estamos sendo empurrados para fora da cidade”, afirmou.
Por outro lado, histórias como a de Mohamed B., de 21 anos, oferecem um fio de esperança. Ele se tornou o taxista mais jovem de Londres após passar pelo rigoroso processo de formação.
Começou a estudar durante o confinamento, ainda aos 17, e aos 21 já estava com a licença nas mãos. “Estou adorando a experiência”, afirmou em um vídeo divulgado por sua empresa.
Para a liderança da categoria, como Steve McNamara, secretário-geral da LTDA (associação dos motoristas licenciados), os desafios são grandes, mas não definitivos.
Ele acredita que os táxis ainda têm um papel importante a cumprir no futuro do transporte urbano, tanto pela qualidade dos veículos quanto pela preparação dos motoristas. “O táxi londrino é hoje o mais limpo, acessível e seguro do mundo. Ainda temos muito a oferecer.”
Enquanto o setor enfrenta um momento delicado, a certeza entre os defensores da categoria é de que os black cabs continuarão a fazer parte da identidade da cidade — por mais 20, 40 anos ou além.
[Fonte: Autocar]
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