
Durante anos, parecia que o apetite dos Estados Unidos por picapes gigantescas e SUVs não tinha limite.
Quanto maiores, mais pesados e mais caros, melhor — e o consumidor americano continuava comprando sem pensar duas vezes.
Mas, segundo uma nova análise do grupo de consultoria automotiva Dave Cantin Group, esse amor incondicional pode estar, finalmente, chegando ao seu ápice. O chamado “Peak Truck”, ou pico das picapes, pode ter sido alcançado.
Essa mudança não significa que os americanos estão abandonando suas picapes de uma hora para outra.

Porém, segundo Brian Gordon, diretor de estratégia da consultoria, a prioridade agora é o bolso.
“O que estamos observando é uma mudança no sentimento do consumidor. Não se trata de uma volta súbita aos sedãs por amor ao estilo, mas sim uma resposta direta à falta de acessibilidade e aos desafios crescentes com os pagamentos de financiamento”, disse em entrevista ao programa Autoline.
Nos últimos anos, a febre dos SUVs e picapes enterrou os sedãs no mercado norte-americano.
Montadoras encerraram a produção de modelos tradicionais, como o Chevrolet Malibu, para apostar nas margens maiores dos utilitários.

Mas agora, a combinação entre aumento do custo de vida, incertezas econômicas e tarifas comerciais impostas pelo governo Trump começa a reverter essa maré.
Os dados de vendas do primeiro trimestre de 2025 confirmam o início dessa mudança. Apesar do bom desempenho das picapes grandes em geral, com exceção da Ram 1500, o destaque ficou com as picapes médias, cujas vendas cresceram de forma expressiva.
A Toyota Tacoma teve um aumento de 177%, o Chevrolet Colorado cresceu 73% e o Ford Ranger teve uma explosão de 677% — este último, impulsionado também por problemas de produção no mesmo período do ano passado.
Enquanto isso, os sedãs começam a reconquistar espaço. Marcas como Nissan estão vendendo muito mais unidades de modelos como Altima e Sentra.

Hyundai Sonata, Kia Forte/K4 e Toyota Prius também registraram alta nas vendas.
O Toyota Camry é uma das poucas exceções nesse ressurgimento dos três-volumes, mas, no geral, o movimento é claro: os carros menores e mais baratos estão voltando ao radar do consumidor americano.
Outro fator relevante são as tarifas de importação.
Mesmo com o recuo de Trump em dobrar algumas taxações, os encargos existentes já são suficientes para encarecer os veículos, principalmente em um mercado que depende de uma cadeia global altamente interligada.
E com o clima de instabilidade econômica, inflação e a ameaça de recessão pairando sobre o país, as pessoas começam a agir com mais pragmatismo.
Brian Gordon resume bem o momento: “O conceito de ‘Peak Truck’ é extremamente importante de se observar, porque ainda não sabemos até onde essa tendência vai.
Mas acreditamos que, quanto mais as condições econômicas continuarem instáveis ou piorarem, os consumidores vão seguir tomando decisões mais racionais sobre os veículos que pretendem comprar.”
Ao que tudo indica, a era das gigantes sobre rodas pode estar cedendo espaço a uma nova fase, mais econômica, racional — e talvez até mais responsável.

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