
O frenesi em torno dos muscle cars “Last Call” da Dodge pode até ter enchido os olhos (e esvaziado os bolsos) de muitos entusiastas, mas a realidade do mercado agora tem um gosto bem mais amargo.
Um proprietário de um Dodge Charger King Daytona 2023 sabe disso melhor que ninguém.
Depois de pagar US$ 136 mil por seu exemplar, ele viu seu carro falhar miseravelmente em um leilão recente ao atingir apenas US$ 93.500 em lances — uma desvalorização de mais de US$ 42 mil em menos de um ano e com apenas 128 km rodados.

Esse tipo de história ilustra bem um velho ditado britânico: “A notícia de hoje é o embrulho de peixe e batata frita de amanhã.”
No mundo automotivo, o paralelo é claro: aquilo que um dia foi tratado como um investimento especial pode se tornar apenas mais um carro com preço inflado e valor emocional inflado demais para resistir ao teste do tempo e da revenda.
Durante a campanha de despedida dos Chargers e Challengers, a Dodge fez um trabalho magistral em transformar versões levemente modificadas de seus modelos mais antigos em verdadeiros objetos de desejo.

O King Daytona, com apenas 300 unidades produzidas, parecia o combo ideal: exclusividade, potência de 807 cv e apelo visual com rodas de 20 polegadas, pinças de freio Brembo laranja e costuras internas combinando com a pintura Go Mango.
Mas no fundo, tudo isso já existia de alguma forma em pacotes mais acessíveis, como o Jailbreak.
E o golpe final vem dos bastidores da Stellantis: rumores apontam que o V8 pode voltar ao novo Dodge Charger já em 2026, mesmo que o projeto atual tenha sido pensado para receber apenas o seis-cilindros Hurricane.

Se isso acontecer, a ideia de que os “Last Call” seriam os últimos V8s da marca cai por terra, e com ela vai também boa parte do valor especulativo que alguns compradores apostaram em modelos como esse.
A matemática para o vendedor é cruel: se ele aceitasse o maior lance no leilão, teria “gasto” cerca de US$ 520 por milha percorrida com o carro.
Agora, resta a ele encarar um prejuízo considerável ou segurar o carro por vários anos na esperança de que, eventualmente, ele se torne realmente colecionável.

Outros compradores também embarcaram nessa bolha.
Um King Daytona chegou a ser vendido por US$ 148.500 em 2023, mas nos últimos 12 meses, unidades com menos quilometragem já trocaram de mãos por US$ 106 mil ou menos.
É o típico caso em que o timing, o hype e a ilusão de exclusividade jogam contra o bom senso. E como sempre acontece quando a empolgação passa, alguém acaba ficando com a batata quente.


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