A guerra comercial entre China e Estados Unidos ganhou um novo capítulo com potencial devastador para a indústria automotiva global.
Em um prédio cinza e discreto ao leste da Praça Tiananmen, em Pequim, uma equipe reduzida do Ministério do Comércio chinês está segurando permissões de exportação de ímãs de terras raras — componentes vitais para motores de veículos elétricos, turbinas e até caças militares americanos.
Desde abril, o governo chinês passou a exigir licenças especiais para a exportação desses ímãs, usando o controle como uma resposta direta às restrições impostas por Washington no setor de semicondutores.
Embora algumas autorizações já tenham sido concedidas, fontes ligadas à indústria, diplomatas e lobistas afirmam que elas representam apenas uma fração do número total de pedidos acumulados desde então.
O impacto já é sentido em diversas indústrias. Montadoras, empresas de tecnologia e até fornecedoras do setor aeroespacial enfrentam atrasos preocupantes.
O governo norte-americano acusa Pequim de violar acordos firmados durante negociações recentes em Genebra, e retaliou com restrições à exportação de peças de motores de avião e outros equipamentos.
A tensão aumentou ao ponto de provocar uma ligação entre o ex-presidente Donald Trump e o líder chinês Xi Jinping. Trump usou as redes sociais para criticar o entrave, enquanto a mídia estatal chinesa manteve um tom diplomático, dizendo que os acordos estão sendo cumpridos.
Dentro da China, o órgão responsável por revisar essas licenças, o Departamento de Controle de Exportações do Ministério do Comércio, contava com apenas 30 funcionários para lidar com a avalanche de pedidos.
Esse número teria dobrado para 60, mas ainda está longe do necessário.
Há apenas três altos funcionários com autoridade para aprovar os documentos, o que torna o processo ainda mais lento e engessado.
Empresas europeias, como a Bosch, apontam que o procedimento é extremamente burocrático, exigindo desde descrições técnicas detalhadas até fotos dos produtos e informações sensíveis.
Há também queixas sobre exigências de dados confidenciais que tocam diretamente em propriedade intelectual — um ponto crítico que tem assustado fornecedores estrangeiros.
Mesmo com a promessa de que os processos seriam analisados em até 45 dias úteis, aqueles com implicações de segurança nacional seguem sem previsão.
Especialistas apontam que os atrasos podem ser tanto resultado de ineficiência quanto de estratégia deliberada para usar as terras raras como instrumento de pressão.
Com a China controlando quase todo o fornecimento global desses materiais, seu poder de barganha se torna imenso.
Analistas chineses reconhecem abertamente que os controles são uma retaliação às sanções americanas no setor de tecnologia, enquanto líderes empresariais no Ocidente temem uma paralisação em larga escala da produção de EVs, aeronaves e eletrônicos.
Essa nova frente de conflito escancara como os avanços tecnológicos e a transição energética podem ser travados não apenas por questões técnicas ou econômicas, mas também por decisões políticas e disputas geopolíticas em curso.
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