Os consumidores estão cada vez mais céticos em relação às tecnologias de assistência à condução, e muitos sequer enxergam utilidade nas versões mais avançadas desses sistemas.
Essa é a principal conclusão de um novo estudo da J.D. Power, que coloca em xeque o esforço que montadoras vêm dedicando ao desenvolvimento e monetização desses recursos.
Segundo Kathleen Rizk, diretora sênior de benchmarking de experiência do usuário na J.D. Power e coautora do estudo, as tecnologias de assistência à condução estão vivendo uma “crise de identidade”.
O motivo? Motoristas não entendem claramente se essas funções servem para aumentar a segurança ou simplesmente oferecer conveniência, e acabam vendo pouco valor em ambas as propostas.
Os sistemas de direção semi-autônoma de Nível 2, por exemplo, não convencem os proprietários de que sejam realmente práticos.
Mesmo as versões hands-free, que permitem tirar as mãos do volante, não caíram nas graças dos consumidores.
O principal argumento é que, se o motorista precisa manter atenção constante à estrada e estar pronto para retomar o controle a qualquer momento, a promessa de conveniência perde o sentido.
Outro dado preocupante para a indústria é que apenas 24% dos entrevistados disseram que os sistemas de direção ativa os tornam motoristas melhores.
Quando se fala de condução sem as mãos, esse índice cai para 18%. Isso significa que as experiências medianas com as tecnologias atuais devem limitar a disposição dos consumidores em pagar por versões mais sofisticadas no futuro.
Essa percepção coloca em risco planos ambiciosos de empresas como Tesla, General Motors e Mercedes-Benz, que apostam em transformar recursos de assistência à direção em serviços por assinatura.
A Tesla, por exemplo, cobra US$ 8.000 pelo sistema Full Self-Driving ou US$ 99 por mês, enquanto a Mercedes oferece seu Drive-Pilot por US$ 2.500 ao ano.
A GM projeta faturar US$ 2 bilhões anuais com seu Super Cruise nos próximos cinco anos. Mas essas metas podem ser inviáveis se os consumidores não perceberem valor tangível nas tecnologias de hoje.
Outro ponto crítico levantado no estudo é a falta de informação e treinamento. Apenas 30% dos consumidores aprenderam a usar as tecnologias de assistência à condução por meio de explicações nas concessionárias.
A maioria, 43%, descobriu sozinha como os sistemas funcionam, enquanto 23% recorreram ao manual do proprietário.
Há, no entanto, uma exceção: tecnologias que resolvem problemas específicos são muito bem recebidas.
Câmeras de ponto cego e alertas de tráfego cruzado traseiro com frenagem automática de emergência foram as funções mais valorizadas pelos motoristas. São sistemas que oferecem benefícios claros e imediatos, em vez de promessas abstratas de autonomia.
Na comparação global, os Estados Unidos estão atrasados. Na China, por exemplo, 56% dos veículos novos já contam com sistemas de direção autônoma de Nível 2, enquanto nos EUA essa participação é de apenas 38%.
A expectativa da J.D. Power é que a adoção aumente, mas em um ritmo muito mais lento do que as montadoras gostariam — algo semelhante ao que aconteceu com o piloto automático adaptativo no passado.
A conclusão do estudo é direta: enquanto as fabricantes seguirem investindo em funções que os consumidores não entendem ou não valorizam, a aceitação e disposição para pagar por essas tecnologias será limitada.
Em um mercado onde o consumidor está cada vez mais cauteloso com o que de fato agrega valor, vender promessas vagas de “autonomia” sem benefícios palpáveis pode ser um caminho perigoso para as montadoras.
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