Uma recente onda de críticas ao novo Ram 1500 viralizou nas redes sociais, após mecânicos sugerirem que a picape estaria usando braços de suspensão superiores, ou bandejas da suspensão, feitas de plástico reciclado.
O vídeo, publicado pela oficina All Win Automotive, mostra profissionais debochando da peça, comparando-a a “partes de um Saturn antigo” e dizendo que a montadora “colocou a zona de deformação nos braços de controle”.
Mas será que a crítica procede? Ao que tudo indica, não. A peça em questão já é usada desde 2018 nos modelos da quinta geração do Ram 1500 e, apesar da aparência, não é feita inteiramente de plástico comum.
A estrutura utiliza um compósito de alta resistência reforçado com fibra de vidro e uma base interna de aço. Segundo a própria Ram, trata-se de uma estratégia de redução de peso que melhora dirigibilidade, eficiência de combustível e até capacidade de carga.
A tecnologia foi desenvolvida pelo grupo sul-coreano Iljin e usa o material Ultramid B3WG10 GF50, um compósito que contém 50% de fibra de vidro em peso.
Esse tipo de estrutura não é inédito na indústria: o mesmo princípio é usado até em veículos elétricos e SUVs de luxo, como o Grand Wagoneer.
A peça também não representa economia no custo de produção em relação ao aço ou alumínio. Pelo contrário: é parte de um esforço da engenharia para tornar os componentes mais leves sem comprometer resistência.
Para quem ainda duvida, a Ram recomenda um teste simples: encostar um ímã na peça e constatar a estrutura metálica por baixo da camada externa.
O mais curioso é que o braço de controle superior, alvo de toda a polêmica, não é a parte que sofre os maiores esforços da suspensão. Essa função cabe ao braço inferior, que suporta peso e impactos diretos.
O superior serve, em grande parte, para manter a geometria da roda e a estabilidade da direção.
Esse tipo de escolha técnica não é exclusividade da Ram. A própria Ford, por exemplo, usa o mesmo braço superior no F-150 Raptor R — uma versão extrema do modelo equipada com motor V8 supercharged e pneus gigantes de 37 polegadas — e na versão de entrada XL com motor V6.
O episódio escancara, mais uma vez, o atrito histórico entre mecânicos e engenheiros. Enquanto um lado lida com peças desgastadas e falhas no dia a dia das oficinas, o outro busca soluções estruturais que conciliem performance e eficiência.
Ambos têm suas razões, mas neste caso específico, o componente criticado parece ter resistido bem ao tempo — afinal, está em uso há mais de seis anos sem gerar uma onda de reclamações reais.
A Ram pode até ter abandonado o motor Hemi temporariamente na linha 2025, mas no que diz respeito aos braços de controle, a montadora aposta firme em uma tecnologia que já se provou funcional, mesmo que à primeira vista pareça algo saído de uma prateleira de loja de utensílios domésticos.
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