
A Porsche pode estar prestes a dar um dos passos mais controversos de sua história.
Segundo informações da revista britânica Autocar, a próxima geração do Macan a combustão, codinome “M1”, vai romper com quase um século de tradição da marca alemã, adotando um sistema de tração dianteira predominante — algo inédito em um Porsche de produção.
A mudança tem explicação: para conter custos de desenvolvimento, o novo Macan será baseado na mesma plataforma Premium Platform Combustion (PPC) do futuro Audi Q5 de terceira geração.
Ambos os modelos fazem parte do universo Volkswagen Group, o que viabiliza esse compartilhamento técnico.
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A estreia do novo Q5 está prevista para 2025, enquanto o Macan M1 chegará apenas em 2028, como complemento ao atual Macan elétrico de segunda geração.
Historicamente, mesmo os SUVs da Porsche, como o Macan e o Cayenne, utilizam sistemas de tração integral com viés traseiro, como o consagrado Porsche Traction Management (PTM).
Esse sistema é ajustado para oferecer comportamento dinâmico próximo ao de um carro esportivo, com distribuição de potência privilegiando a traseira.
No novo Macan, entretanto, o sistema será o quattro ultra da Audi, com foco nas rodas dianteiras — as traseiras só entrarão em ação quando houver perda de tração.
Essa decisão marca uma guinada na filosofia de engenharia da Porsche. Desde que começou a fabricar carros, em 1931, a marca sempre priorizou a tração traseira ou integral com foco esportivo.
O 911, ícone da fabricante, é o exemplo máximo desse princípio. Ironia do destino, porém, é que Ferdinand Porsche, o fundador, já havia experimentado tração dianteira no ano 1900, ao criar um carro de corrida com motores elétricos nos cubos dianteiros.
A decisão é também uma resposta ao cenário atual da Porsche. A marca vem sofrendo com queda nas vendas e margens de lucro pressionadas, especialmente após retirar o Macan a combustão de mercados como Europa e Austrália.
A produção do modelo atual será encerrada em 2026, o que deixará a Porsche dependendo exclusivamente da versão elétrica do Macan por até dois anos.
E embora o Macan EV tenha representado 60% das vendas da marca no primeiro semestre de 2025, a ausência de uma opção a gasolina ou híbrida deverá impactar significativamente o desempenho financeiro da empresa.
Em julho, o CEO Oliver Blume admitiu a necessidade de rever o modelo de negócios da Porsche e sinalizou cortes de custos em várias frentes — o novo Macan com tração dianteira é uma das consequências dessa estratégia.
A própria meta de eletrificação da Porsche — atingir 80% de vendas globais com EVs até 2030 — já foi revista. Em 2024, a marca admitiu que esse objetivo “vai demorar mais do que o previsto” para ser alcançado.
Ou seja, os motores a combustão ainda terão espaço no futuro da marca, mesmo que em plataformas compartilhadas com outras empresas do grupo.
O novo Macan promete ser um divisor de águas: ao mesmo tempo que atende às necessidades de mercado e pressões internas de custo, desafia os princípios que tornaram a Porsche uma referência em engenharia automotiva.
Resta saber se o consumidor verá o modelo como uma adaptação inteligente — ou como a diluição definitiva da alma esportiva da marca.
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