Enquanto as montadoras apostam todas as fichas nos SUVs e crossovers, os consumidores britânicos mostram que ainda existe muito espaço — e preferência — pelos tradicionais hatchbacks e compactos no mercado de carros usados.
Um levantamento recente revela que nove entre os dez modelos seminovos mais vendidos no Reino Unido no primeiro semestre de 2025 são justamente esses carros menores, contrariando completamente o domínio absoluto dos SUVs entre os modelos zero-quilômetro.
O cenário é curioso: enquanto os carros altos e robustos são promovidos como protagonistas da nova era automotiva, os consumidores continuam a buscar, no mercado de segunda mão, os modelos mais simples, eficientes e compactos.
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A diferença de comportamento mostra que a decisão de aposentadoria de vários desses modelos, como o Ford Fiesta, pode ter sido precipitada — ou puramente estratégica.
O Ford Fiesta, mesmo fora de linha desde 2023, ainda reina absoluto nas ruas britânicas. Com quase 1,4 milhão de unidades registradas até o fim de 2024, ele liderou as vendas de usados nos primeiros seis meses deste ano.
A força da sua presença nas ruas e a preferência contínua do público demonstram que o fim da produção foi mais um movimento da indústria do que um reflexo da vontade do consumidor.
Apesar das restrições ambientais e das novas normas de segurança que encarecem a permanência desses modelos menores nas linhas de produção, os dados mostram que eles ainda têm um forte apelo.
O mercado de usados se tornou um refúgio para quem não quer — ou não pode — embarcar nos modelos maiores e mais caros que dominam os lançamentos.
Entre os novos modelos mais vendidos em 2025, oito dos dez primeiros colocados são SUVs, com destaque para o Nissan Qashqai, Ford Puma e Kia Sportage.
Apenas o Vauxhall Corsa e o Volkswagen Golf representam o time dos hatchbacks, sinalizando que o consumidor de carros novos está sendo guiado por uma oferta cada vez mais limitada — e por campanhas que exaltam os SUVs como padrão moderno de mobilidade.
No entanto, os números do mercado secundário contam outra história.
O próprio Qashqai é o único SUV a figurar entre os dez usados mais vendidos no mesmo período. Modelos como Fiesta, Corsa e Focus continuam a liderar em preferência e, mais importante, em valor de revenda.
Prova disso é a comparação entre a desvalorização dos modelos. Um Ford Fiesta 2022 com 30 mil milhas, versão Titanium, vale hoje cerca de £11.500 — contra £13.500 de um Ford Puma com as mesmas condições.
No entanto, o Fiesta custava £18.655 novo, o que representa uma depreciação de 38%, enquanto o Puma, com preço inicial de £24.940, perdeu 46% do valor. Ou seja: o hatch desvalorizou menos que o SUV.
A força do mercado de usados não está apenas nos compactos. As vendas gerais de seminovos no Reino Unido ultrapassaram os 4 milhões de unidades no primeiro semestre, algo que não acontecia desde antes da pandemia.
Já o mercado de carros novos ainda luta para voltar aos patamares anteriores a 2020.
Nos modelos eletrificados, o crescimento também é expressivo. As vendas de EVs usados aumentaram 40% entre abril e junho de 2025, com 68.721 unidades comercializadas.
Apesar de ainda representarem apenas 3,4% do mercado, esse avanço sinaliza um movimento positivo. O Tesla Model 3 liderou entre os elétricos de segunda mão, enquanto híbridos e híbridos plug-in também cresceram 27,7% e 10,3%, respectivamente.
O contraste entre os carros novos e os usados mostra que, enquanto a indústria se curva às exigências regulatórias e busca maiores lucros com SUVs, o consumidor comum ainda valoriza a praticidade, o custo-benefício e a simplicidade dos modelos tradicionais.
E o mercado de usados, cada vez mais aquecido, é o espelho dessa resistência silenciosa.
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