
Quando Elon Musk negou em abril de 2024 que a Tesla havia cancelado seu tão aguardado carro de entrada — conhecido informalmente como “Model 2”, ou “Project Q” —, ele já sabia que a informação divulgada pela Reuters estava correta.
A declaração pública de Musk, acusando a agência de “mentir novamente”, aconteceu semanas após ele próprio ter colocado fim ao projeto do modelo de US$ 25 mil.
Segundo novos documentos revelados pela própria Reuters, executivos da Tesla ficaram alarmados com a negação pública do CEO.
A mentira gerou confusão interna: alguns funcionários chegaram a pensar que o projeto havia sido retomado, enquanto outros se preocuparam com o impacto que a falsa promessa poderia causar em consumidores que poderiam adiar compras à espera de um carro que não será lançado.
A situação ficou ainda mais delicada por envolver possíveis implicações legais.
Musk possui um acordo judicial com a SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos EUA) que exige supervisão jurídica sobre suas postagens relacionadas à Tesla, após um episódio em que ele enganou investidores ao afirmar falsamente que tinha financiamento garantido para tornar a empresa privada.
A postagem sobre o “Model 2” teve impacto imediato no mercado: as ações da Tesla, que haviam caído 6% no dia, se recuperaram parcialmente após a declaração do CEO — o que reforça a possibilidade de violação do acordo com a SEC.
Esse episódio é mais um exemplo de uma postura recorrente de Musk: atacar a imprensa, deslegitimar reportagens verdadeiras e usar as redes sociais como ferramenta para moldar narrativas a seu favor.
Ele tem histórico de embates com veículos como a Reuters, o Wall Street Journal e até com sites especializados como o Electrek, que chegou a ser bloqueado por Musk no X (ex-Twitter) após publicar uma reportagem sobre cobrança indevida por um upgrade de hardware em carros da marca.
Curiosamente, essa hostilidade com a mídia acontece ao mesmo tempo em que a Tesla decidiu dissolver seu próprio departamento de relações públicas.
Com isso, repórteres são deixados no escuro, sem porta-vozes oficiais para confirmar ou negar informações.
Ainda assim, Musk se diz “indignado” quando reportagens não trazem “negações claras” — algo difícil de conseguir quando a empresa simplesmente se recusa a se comunicar.
O caso do “Model 2” escancara a contradição entre o discurso público de Musk e a realidade nos bastidores.
O projeto, que visava democratizar o acesso a um Tesla, já havia sido arquivado internamente, mas foi defendido em público como se ainda estivesse em curso — tudo para conter danos na bolsa.
Para os investidores, consumidores e até para os funcionários da Tesla, a confusão levantou uma pergunta incômoda: até que ponto se pode confiar na palavra do homem mais poderoso da montadora?
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