
A Rússia, que se transformou em um refúgio lucrativo para montadoras chinesas após a invasão da Ucrânia, começa agora a fechar suas portas para os carros vindos do gigante asiático.
A mudança acontece depois que o governo russo decidiu aumentar significativamente a chamada “taxa de reciclagem” para veículos importados, o que elevou o preço de carros com motores entre 1 e 2 litros em mais de US$ 8 mil.
O efeito foi imediato: as vendas de carros na Rússia caíram 27% no primeiro semestre de 2025, e as importações de veículos chineses despencaram 62% no mesmo período.
Essa retração num mercado que representava quase um quinto das exportações automotivas da China em 2023 acendeu o alerta em Pequim.
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Marcas como Geely, Chery e Great Wall, que lideraram a ocupação deixada por europeias, japonesas e americanas após as sanções ocidentais, agora veem o tapete ser puxado de forma abrupta.
O baque russo coloca ainda mais pressão sobre montadoras chinesas que já enfrentam excesso de produção e uma guerra de preços interna feroz.
Geely, por exemplo, viu suas exportações caírem 8% nos primeiros oito meses de 2025, enquanto a Great Wall ficou estagnada.
A Chery, líder de exportações da China, ainda teve crescimento de 11%, mas bem abaixo dos 25% registrados no ano anterior. Por outro lado, a BYD, que não atua oficialmente na Rússia, mais do que dobrou suas vendas no exterior, ameaçando o topo da Chery.

A situação russa se soma a um cenário global cada vez mais hostil às exportações chinesas.
A União Europeia impôs tarifas extras de até 35% sobre veículos elétricos chineses, sob alegação de concorrência desleal por causa de subsídios estatais. Nos Estados Unidos e no Canadá, as tarifas já chegam a impressionantes 100%.
Agora, até o México, que superou a Rússia como principal destino dos carros chineses em 2025, estuda aumentar as tarifas para atender às exigências do presidente Donald Trump em negociações comerciais.
Rosalie Chen, analista da consultoria Third Bridge, afirmou que o market share chinês na Rússia chegou ao limite de 50% a 60%, e que o crescimento futuro será limitado por políticas internas e pela possível volta de marcas ocidentais, caso o conflito entre Rússia e Ucrânia caminhe para um desfecho.
Com isso, montadoras chinesas começam a olhar com mais atenção para novos destinos, como América Latina, Oriente Médio e África.
Marcas como a Geely já anunciaram planos de expansão para Brasil, África do Sul e Itália, buscando diversificar seus mercados e evitar nova dependência de regiões instáveis.
O desafio, segundo analistas, é claro: os ciclos econômicos globais estão fora do controle das fabricantes.
Paul Gong, chefe de pesquisa automotiva do UBS, lembra que em 2015 uma queda no rublo russo combinada com o enfraquecimento da economia chinesa provocou uma onda de desvalorização cambial em países como Malásia, Indonésia e Brasil, afetando diretamente os mercados automotivos locais.
Enquanto isso, a ascensão das tarifas, o protecionismo e as exigências por conteúdo local ganham força em diversas regiões.
As marcas chinesas agora enfrentam um novo cenário: não basta oferecer um carro barato e moderno — é preciso navegar um mundo cada vez mais político e regulado.
Com o colapso na Rússia e a pressão internacional aumentando, a corrida das montadoras chinesas por novos mercados está só começando. E o desafio será provar que seu domínio no setor automotivo global vai além da vantagem de preço.
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