O plano ambicioso de colocar a Amazon no centro da experiência digital de milhões de carros da Stellantis não vai mais acontecer.
Anunciado com pompa em janeiro de 2022, o acordo plurianual entre as duas gigantes, que previa o desenvolvimento de um pacote completo de software veicular baseado na assistente virtual Alexa e nos serviços em nuvem da Amazon, foi encerrado discretamente em 2025.
Segundo fontes ouvidas pela agência Reuters, a montadora já avalia migrar para uma solução baseada no ecossistema do Google.
A separação foi oficializada com uma declaração conjunta que diz pouco: “Encerrar a parceria permitirá que cada equipe se concentre em soluções que tragam valor para nossos clientes e estejam melhor alinhadas com nossas estratégias em evolução.”
Na prática, é o tipo de comunicado genérico que não esclarece absolutamente nada, mas aponta para diferenças estratégicas irreconciliáveis.
Quando a união foi anunciada, fazia sentido: a Stellantis, como tantas outras montadoras, percebeu que disputar com as big techs no desenvolvimento de software era uma briga perdida.
Assim, o caminho mais lógico seria delegar a parte tecnológica a especialistas e se concentrar em fazer aquilo que sempre soube — projetar e fabricar carros.
A parceria com a Amazon prometia transformar o painel dos carros em um verdadeiro centro de conectividade e entretenimento, ampliando também o poder de monetização via serviços digitais.
Entre os destaques do projeto estava o chamado “SmartCockpit”, uma plataforma integrada com inteligência artificial e conectividade total com o ecossistema do usuário.
Nos modelos Chrysler Pacifica, por exemplo, o software permitiria criar roteiros de viagem para a família, sugerindo conteúdo de mídia, pontos turísticos e restaurantes.
Já em Jeeps, o cockpit inteligente traria um assistente off-road digital para orientar motoristas em trilhas difíceis.
A ideia era ambiciosa: centralizar navegação, entretenimento, serviços e até pagamentos digitais em um só sistema.
A Amazon lucraria com a implementação de seu sistema em milhões de veículos, cobrando pela licença e pela manutenção do software, enquanto a Stellantis receberia comissões por cada assinatura ou serviço adquirido pelo usuário dentro do carro, como streaming de música ou pacotes premium.
Mas, ao que tudo indica, o casamento não deu certo.
Fontes próximas ao projeto revelaram que a equipe dedicada à cabine digital na Amazon foi praticamente desfeita, com muitos funcionários sendo realocados ou deixando a empresa.
O entusiasmo inicial esfriou e o futuro da iniciativa perdeu força dentro da própria gigante do varejo.
A Stellantis, por sua vez, continua comprometida com a transformação digital de seus veículos e já considera outra parceria: a adoção do Android Automotive, o sistema operacional automotivo da Google.
A marca francesa já utiliza esse sistema em alguns modelos, como o novo Peugeot 3008, e vê na plataforma da Google uma opção mais madura e menos dependente de promessas não cumpridas.
Embora outras colaborações entre Stellantis e Amazon continuem — os detalhes ainda não foram divulgados —, é evidente que a era do “cockpit Amazon” terminou antes mesmo de começar.
O fim da parceria reacende o debate sobre quem, afinal, deve controlar o cérebro digital dos carros modernos: as montadoras ou as empresas de tecnologia. E, por ora, parece que a Google sai na frente mais uma vez.
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