
Assim como no Brasil, muitos registram seus super carros esportivos caríssimos em Santa Catarina, para pagar menos IPVA (lá a alíquota é de apenas 2%), nos Estados Unidos, muitos usam a mesma tática.
Uma das brechas mais gritantes é o “loophole” da placa de Montana, que permite a milionários registrarem seus supercarros em um estado que não cobra imposto sobre vendas e não exige inspeções veiculares nem testes de emissões.
Basta pagar cerca de US$ 1.000 para abrir uma empresa no estado e pronto: o dono de uma Ferrari, McLaren ou Bugatti escapa de milhares — ou até dezenas de milhares — de dólares em impostos estaduais.
Legal? Talvez. Ético? Muitos dizem que não.
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Os números escancaram o absurdo. Montana, com apenas 879 mil motoristas licenciados, tinha em 2023 mais de 2,3 milhões de veículos registrados — quase três carros por motorista, a maior média dos Estados Unidos.
Segundo a Bloomberg, só em 2024 o estado registrou 5.281 Ferraris. Para efeito de comparação, o estado de Washington, com população sete vezes maior e sede de 10 empresas da Fortune 500, registrou apenas 837 Ferraris no mesmo ano.
A farsa fica ainda mais evidente quando analisamos outras marcas de luxo: 131 Bugattis em Montana contra zero em Washington; 1.966 Lamborghinis contra 340; 920 Rolls-Royces contra 155.
O ex-diretor de receita de Montana, Dan Bucks, afirma que há pelo menos 600 mil veículos registrados no estado mas operando em outras partes do país — ou seja, é uma prática conhecida e sistemática de evasão fiscal.

O Estado da Califórnia já está combatendo ativamente esse tipo de fraude.
O DMV local passou a utilizar câmeras de leitura automática de placas e cruzamento de dados para identificar veículos de luxo com placas de Montana que circulam diariamente em território californiano.
A regra é clara: o carro precisa ter sido entregue e mantido fora da Califórnia por pelo menos 12 meses para que o proprietário não seja obrigado a pagar o imposto estadual.
Desde o início da operação, a Califórnia já arrecadou US$ 1,6 milhão em impostos e taxas de veículos irregulares.

Utah foi ainda mais longe: o governador Spencer Cox assinou, em março de 2025, uma nova lei para localizar e penalizar donos de veículos registrados em Montana mas que circulam em Utah.
A medida prevê cruzamento de dados entre o banco de motoristas e registros do Departamento de Impostos, além de multas retroativas. Estima-se que a campanha possa recuperar até US$ 100 milhões em impostos e taxas não pagos.
Enquanto isso, empresas especializadas como a Dirt Legal lucram ao ajudar os super-ricos a escaparem das obrigações.
Com mais de 47 mil clientes espalhados por todos os estados americanos, a empresa se gaba de facilitar o registro de carros como o Mercedes-AMG GLE Coupe de um cliente que economizou US$ 6.000 em impostos.

Já existem até os chamados “tax jails” — armazéns de luxo em Montana onde os veículos ficam guardados por um ano para manter a “legalidade” antes de serem enviados ao estado real do proprietário.
O problema maior não é apenas o buraco nos cofres públicos. É a mensagem. Os impostos sobre carros de luxo são usados para financiar a infraestrutura que todos usam: estradas, sinalização, manutenção urbana.
Quando alguém compra uma Ferrari de US$ 1 milhão, mas faz manobras para não pagar seu imposto estadual, está simplesmente usando os serviços pagos por todos sem dar a contrapartida.
E isso enquanto trabalhadores comuns, que não têm um exército de contadores ou advogados tributários, continuam pagando cada centavo do que lhes é cobrado.
O sistema permite — e até incentiva — que o mais rico evite contribuir para o bem coletivo.
Mas isso não torna menos podre o fato de que alguém com dinheiro suficiente para bancar um Bugatti decida que vale mais a pena economizar alguns milhares em impostos do que colaborar com os mesmos serviços públicos que ele usufrui.
Se você acredita que todos devem fazer sua parte, isso pode causar revolta.
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