Sem medo de perder dinheiro, Hyundai diz que não liga se você vai comprar o Ioniq 6 N — e está certa

Em tempos em que cada novo carro parece sair de um laboratório de marketing, a Hyundai resolveu tomar um caminho quase esquecido pela indústria: criar algo pelo simples prazer de mostrar que é possível.

O Ioniq 6 N, versão esportiva do sedã elétrico da marca, é exatamente isso — um projeto que não nasceu para agradar planilhas, e sim para empolgar engenheiros e apaixonados por carros.

Quem admite isso sem rodeios é Manfred Harrer, chefe da divisão de desenvolvimento de performance da Hyundai, em entrevista ao site australiano Drive. Segundo ele, o modelo não foi feito com base em projeções de vendas ou retorno sobre investimento.

“Normalmente, você começa um projeto analisando o custo de material, a viabilidade e o volume de vendas. Mas aqui, se havia uma ideia para melhorar o carro, deixá-lo mais rápido e divertido de dirigir, simplesmente fizemos”, explicou.

Esse tipo de mentalidade é cada vez mais raro no setor automotivo atual, onde SUVs e crossovers tomaram conta das vitrines por pura lógica comercial.

Mas o Ioniq 6 N surge como um respiro criativo — um modelo que segue os passos de lendas dos anos 90, como os japoneses que nasceram em plena bolha econômica e ignoravam o lucro em nome da engenharia.

A Hyundai sabe que não vai vender o Ioniq 6 N em grandes volumes, e isso é irrelevante para o projeto. A ideia é provar que é possível fazer um EV com desempenho real, feito por e para entusiastas, mesmo que ele seja um produto de nicho.

Em vez de agradar os acionistas, o foco foi agradar os pilotos de fim de semana, os apaixonados por tecnologia e os nostálgicos por uma indústria mais corajosa.

Comprar um Ioniq 6 N talvez até soe contraditório, já que sua existência não depende disso. Mas ele serve como recado à indústria: ainda vale a pena investir em projetos que emocionam, não só em SUVs genéricos que fecham bem os trimestres.

Hyundai entendeu que, de tempos em tempos, vale a pena colocar os engenheiros no comando — e deixar os “bean counters” de lado.

Que outras montadoras tenham a mesma coragem.