A história da Canoo, startup americana de veículos elétricos que prometia revolucionar o setor, chegou ao fim de forma desastrosa — e agora, o colapso ganhou contornos de escândalo.

Após pedir falência sob o Capítulo 7 em janeiro deste ano e interromper completamente suas operações, a empresa enfrenta uma onda de acusações envolvendo ativos ocultos, vendas internas suspeitas e alegações de que seu CEO saiu do naufrágio com um “acordo bom demais para ser verdade”.

Na última sexta-feira, a também startup do setor elétrico Harbinger entrou com uma objeção formal ao processo de venda dos ativos da Canoo.

O motivo? A alegação de que o processo foi conduzido de maneira desigual e beneficiou diretamente o CEO da Canoo, Tony Aquila.

Segundo o documento, a empresa teria omitido da listagem alguns ativos adquiridos da britânica Arrival — outra startup de EVs que também entrou em colapso — e o síndico do processo de falência aprovou a venda para Aquila sem realizar avaliação independente ou sequer oferecer os ativos a potenciais compradores externos.

A denúncia da Harbinger levanta suspeitas ainda mais sérias. A startup afirma que a Canoo incluiu no inventário de venda itens que, na verdade, nem lhe pertenciam.

Embora os documentos não especifiquem quais ativos estão em questão, Harbinger diz que teve acesso ao chamado “data room” virtual usado para atrair licitantes e, com base nesse material, conseguiu identificar inconsistências na posse e valor dos bens anunciados.

Pior: a venda aprovada ao CEO inclui um item extremamente delicado — o controle da ação judicial movida pela própria Canoo contra a Harbinger em 2022. No processo, a Canoo acusa ex-funcionários que migraram para a rival de roubo de segredos industriais e uso indevido de informações confidenciais.

Agora, com a venda dos ativos, qualquer compensação futura obtida com essa ação beneficiará diretamente Aquila, que também está comprando “segredos comerciais não especificados” — cujos detalhes, segundo a Harbinger, só o próprio CEO conhece.

“Um processo em que apenas um licitante — um insider — consegue identificar os ativos à venda e estimar seu valor não pode ser considerado justo”, diz a contestação.

Mesmo antes do colapso oficial, a trajetória financeira da Canoo já era motivo de alerta. Desde sua fundação em 2017, a empresa gerou quase nenhuma receita e acumulou prejuízos de proporções alarmantes.

Em 2022, reportou uma perda de US$ 488 milhões, seguida por US$ 303 milhões em 2023. Nos primeiros seis meses de 2024, o rombo cresceu mais US$ 118 milhões. Para se ter ideia do desequilíbrio, a empresa faturou zero em 2022 e apenas US$ 900 mil em 2023 — um valor insignificante no universo das montadoras.

Agora, com o fim decretado, a Canoo se junta à longa lista de startups de mobilidade que prometeram mudar o mundo, mas acabaram consumidas por má gestão, ambição desmedida e, ao que tudo indica, manobras questionáveis.

E ao contrário de outras que pelo menos tentaram sair de cena com alguma dignidade, a Canoo parece estar se despedindo deixando um rastro de desconfiança e indignação no setor automotivo.