A Stellantis viveu nos últimos dias um capítulo tenso de sua relação com fornecedores, depois de acusar a Trico Products Corp. de extorsão e de quase paralisar suas linhas de produção ao reter o fornecimento de limpadores de para-brisa.
A montadora, dona de marcas como Jeep, Ram, Dodge e Chrysler, chegou a mover uma ação judicial contra a fornecedora, pedindo uma ordem temporária para obrigar a continuidade das entregas.
Mas, em um desdobramento surpreendente, retirou o processo menos de 48 horas depois.
A ação foi registrada em 12 de maio no Tribunal do Condado de Oakland, em Michigan, e alegava que a Trico havia interrompido abruptamente os envios e recusado qualquer negociação, ameaçando diretamente a produção em fábricas da Stellantis em Sterling Heights, nos EUA, e Saltillo, no México.
O pedido de emergência buscava evitar prejuízos graves à operação, afirmando que o fornecedor estava exigindo aumentos abusivos, com uma proposta de reajuste de 108% no preço de 19 componentes, o que representaria um impacto anual adicional de US$ 78 milhões para a montadora.
Segundo a Stellantis, desde maio de 2022 a Trico já havia forçado a montadora a pagar mais de US$ 47 milhões “sob protesto”, incluindo US$ 35 milhões apenas na América do Norte.
A empresa classificou a conduta como um abuso inaceitável, criticando a prática de fornecedores ameaçarem paralisações catastróficas como estratégia para impor aumentos fora dos contratos vigentes.
Apesar das graves acusações, a Stellantis recuou rapidamente e arquivou o processo em 14 de maio, sem dar explicações detalhadas sobre o motivo da desistência.
Apenas confirmou à imprensa que a disputa não afetou a produção e evitou mais comentários. Já a Trico, que pertence ao First Brands Group e está sediada em Rochester Hills, Michigan, também não se manifestou.
Mesmo tendo sido retirada, a ação expôs as tensões crescentes entre fabricantes e fornecedores em um cenário de custos elevados e margens apertadas.
Nos bastidores, o caso indica que a Stellantis não hesitará em recorrer aos tribunais quando sentir que fornecedores estão forçando acordos comerciais à base da pressão.
Essa não é a primeira disputa do tipo envolvendo a montadora; no ano passado, um embate semelhante com a Brose North America também foi parar na Justiça.
A Stellantis admite buscar uma nova fornecedora para os limpadores de para-brisa, mas ressalta que a troca não seria viável antes de outubro.
Até lá, a relação com a Trico precisará ser administrada com cautela, mesmo após o episódio conturbado.
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