Mais um exemplo de como o mercado automotivo brasileiro aceita tudo que as montadoras fazem, e ainda compra sorrindo:
Com as tarifas de 25% sobre carros importados prestes a entrar em vigor nos Estados Unidos, a Mercedes-Benz está considerando uma decisão drástica: retirar do mercado americano seus modelos mais acessíveis.
Segundo fontes próximas às discussões, a montadora alemã está avaliando encerrar as vendas de veículos de entrada como o SUV compacto GLA, em uma tentativa de proteger seus resultados financeiros diante de um cenário comercial cada vez mais hostil.
As novas tarifas, idealizadas pelo ex-presidente Donald Trump como parte de sua política de “retorno da produção nacional”, devem atingir em cheio montadoras europeias, como Mercedes e Porsche.
De acordo com estimativas da Bloomberg Intelligence, a Mercedes pode enfrentar um impacto financeiro de até 3,4 bilhões de euros (cerca de 3,7 bilhões de dólares) com a nova taxação.
O problema, para marcas como a Mercedes, vai além do aumento de custos: o ambiente de incertezas torna praticamente impossível planejar com antecedência.
O GLA, por exemplo, é vendido nos EUA a partir de US$ 43 mil, mas sua margem de lucro já é considerada apertada. Com os 25% adicionais, ou a Mercedes repassa o custo para o consumidor — tornando o modelo menos competitivo — ou absorve o impacto, operando no prejuízo.
(Por falar em GLA, o modelo também é vendido por cerca de R$ 340.000, assim como acontece com o A200. E poderia ser vendido por menos, já que sai a 43.000 dólares na terra do Tio Sam, não é mesmo?)
Nenhuma das alternativas é atraente, e a possível retirada da linha pode ser uma forma de reduzir a exposição nesse segmento de baixo retorno.
Executivos da marca estariam frustrados com a falta de clareza vinda de Washington. Sem uma lista oficial dos componentes e peças que também serão taxados — o chamado “Anexo 1” —, as fabricantes não conseguem reorganizar suas cadeias de suprimentos ou ajustar preços de forma estratégica.
Andrew Bergbaum, diretor da consultoria AlixPartners, classificou a situação como “uma dor de cabeça gigante”. Segundo ele, “não saber o que está por vir torna extremamente difícil tomar decisões estratégicas.”
A saída dos modelos de entrada também se alinha com o reposicionamento global da Mercedes sob o comando do CEO Ola Källenius.
A montadora já vinha priorizando modelos mais caros, como o sedã S-Class e os SUVs de grande porte, ao mesmo tempo em que reduzia investimentos em compactos para focar em rentabilidade, mesmo à custa de volume de vendas.
Além disso, a montadora também reavaliou recentemente sua estratégia de eletrificação. Após queda na demanda por veículos elétricos, a Mercedes adiou seus planos de tornar a linha 100% elétrica e reafirmou investimentos em motores a combustão, reforçando a postura conservadora diante de um mercado volátil.
Outras marcas já estão se preparando para o impacto. A Volkswagen estuda ampliar a produção local para driblar as tarifas, enquanto Aston Martin e Ferrari já anunciaram aumentos de preços nos EUA.
A Stellantis, controladora da Chrysler, chegou a enviar representantes para conversar diretamente com Trump, numa tentativa de suavizar as medidas.
Para a Mercedes, que vê os EUA como um mercado crucial para seus veículos mais caros, a retirada de modelos como o GLA pode até ser uma jogada de sobrevivência.
Mas para os consumidores, essa mudança poderá representar menos opções de luxo acessível — e preços ainda mais altos em um mercado automotivo cada vez mais pressionado por tensões geopolíticas e incertezas econômicas.
Quer receber todas as nossas notícias em tempo real?
Acesse nossos exclusivos: Canal do Whatsapp e Canal do Telegram!