A Porsche pode ter sido salva no início dos anos 2000 pelo lançamento do primeiro Cayenne, mas hoje o sucesso de seus SUVs pode estar contribuindo para um desafio maior e mais profundo para a marca alemã.
De acordo com uma reportagem do Wall Street Journal, os modelos Cayenne e Macan, apesar de representarem a maior parte do volume de vendas da fabricante, estão impactando negativamente sua lucratividade e até seu prestígio.
Isso está acontecendo principalmente diante das novas tarifas impostas pela administração Trump a carros importados.
Em 2025, a Porsche viu suas ações caírem 21%, enquanto marcas de luxo como a Ferrari — com um posicionamento de mercado mais exclusivo — subiram 8%.
O WSJ sugere que a forte dependência de SUVs de preço mais acessível, como o Macan, torna a marca mais vulnerável a aumentos de custo.
Um cliente que antes conseguia adquirir um Macan S por US$ 70 mil, hoje talvez só consiga a versão mais básica pelo mesmo valor, o que pode levá-lo a considerar opções de rivais premium como a BMW, cujos modelos são produzidos localmente nos Estados Unidos.
A Porsche, por sua vez, insiste que sua identidade europeia é vital para manter o status da marca.
Mesmo que o Cayenne seja montado na Eslováquia e não na Alemanha, o CEO Oliver Blume acredita que os consumidores americanos valorizam a origem europeia dos modelos.
Isso contrasta com marcas como BMW, que fabrica seus SUVs populares em solo americano, como os X3, X5 e X7, em uma estratégia mais adequada ao mercado local e menos suscetível a tarifas.
Outro ponto que pesa contra a Porsche, segundo o WSJ, é a percepção de que seus SUVs compartilham muita tecnologia com modelos de outras marcas do grupo Volkswagen.
O novo Macan elétrico, por exemplo, usa a mesma plataforma PPE que os Audi A6 e-tron e Q6 e-tron. Já o Cayenne divide muitos componentes com o Volkswagen Touareg e até com o Lamborghini Urus.
Essa abordagem pode trazer economia de escala, mas também dilui a exclusividade percebida da marca.
Apesar disso, há um contraponto importante: a Porsche é justamente a mente por trás de muitas dessas tecnologias.
A plataforma PPE, assim como a J1 usada nos modelos Taycan e Audi e-tron GT, foi desenvolvida com forte participação da engenharia da Porsche.
Em vez de a Porsche estar sendo puxada para baixo por essas parcerias, pode-se argumentar que ela está, na verdade, elevando a qualidade técnica de todo o grupo VW.
Ainda assim, o cenário atual impõe dilemas para a Porsche. Continuar apostando em SUVs acessíveis pode manter o volume, mas compromete margens e a aura de exclusividade que sempre cercou a marca.
A dúvida é se, no esforço de alcançar novos públicos, a Porsche poderá perder justamente o que a tornou tão admirada por entusiastas ao redor do mundo.
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