A Tesla encerrou em novembro passado uma política controversa que, desde 2019, proibia clientes de leasing nos Estados Unidos de comprar seus veículos ao final do contrato.
Na época, a justificativa era que os carros seriam utilizados na futura frota de robotáxis da marca.
“Queremos eles de volta”, disse Elon Musk em 2019, prometendo mais de 1 milhão de robotáxis nas ruas no ano seguinte — algo que nunca aconteceu.
Em vez disso, a Tesla encontrou uma forma lucrativa de transformar esses veículos em uma fonte de receita adicional.
De acordo com fontes ligadas à operação da marca, a empresa começou a revender os veículos usados com upgrades de software, como o sistema “Full Self-Driving” (vendido por até US$ 15.000) e o pacote de aceleração (“Acceleration Boost”, por US$ 2.000), elevando significativamente os preços de revenda.
O resultado: ex-clientes que não podiam comprar seus próprios carros de volta assistiam a Tesla revendê-los por valores superiores aos que pagariam em um buyout.
A prática, embora legal, foi contraditória ao discurso de Musk e às informações apresentadas pela Tesla em seu próprio site.
Os clientes foram induzidos a acreditar que os carros seriam transformados em robotáxis, o que ajudou a alimentar uma narrativa que inflacionou o valor das ações da empresa, muito além de seus resultados financeiros reais.
Entre 2019 e 2023, mais de 314.000 veículos foram entregues por leasing, segundo dados da própria Tesla.
Durante a pandemia, com estoques baixos e preços de carros usados em alta, a política parecia fazer sentido financeiro.
Mas em 2025, com a demanda em queda — especialmente pela rejeição ao envolvimento político de Musk — a estratégia se tornou insustentável.
Com os preços dos Teslas usados despencando (queda de 7,6% em um ano, segundo a CarGurus), a empresa reverteu discretamente a política em novembro de 2025, permitindo novamente que clientes pudessem comprar seus veículos ao final do leasing.
Ex-clientes não esconderam a frustração.
Joe Mendenhall, empresário de Indianápolis, relatou que durante todo seu contrato de leasing do Model Y, a Tesla insistia que precisaria do carro para a frota de robotáxis.
Depois, descobriu que o veículo foi simplesmente revendido. “Mentiram sobre eu não poder comprar meu carro. Ele foi leiloado, não virou robotáxi”, escreveu.
O episódio também expôs um padrão: desde 2016, Musk promete a chegada do robotáxi “no ano que vem”, mas nunca cumpriu.
Em 2023, a própria Tesla indicava em seu site que veículos entregues após abril de 2022 “não seriam elegíveis para compra”. Mesmo assim, mantinha a narrativa do robotáxi, usada por investidores como justificativa para projeções otimistas.
Agora, com o mercado de carros elétricos mais competitivo e Teslas desvalorizando mais rápido do que a média, a empresa tenta minimizar perdas.
Durante a conferência de resultados de janeiro, o CFO da Tesla, Vaibhav Taneja, admitiu que a queda no lucro com veículos usados impactou as margens.
Ex-funcionários da Tesla relataram que, mesmo antes da mudança de política, os clientes questionavam os preços altos dos usados, muitas vezes próximos ao de modelos novos.
A resposta dos vendedores era sempre a mesma: os carros receberam upgrades e estavam reservados para o projeto de robotáxis.
Para consumidores como Marshall Distel, que alugou um Model 3 em 2023, a situação gerou decepção. Embora adorasse o carro, ele afirmou não querer mais associar-se à marca.
“Gosto do carro, mas não do que tem acontecido com o CEO. Não quero mais fazer parte disso.”
O caso da Tesla é um exemplo claro de como promessas exageradas, misturadas à ausência de transparência, podem desgastar a imagem de uma marca — e de como decisões oportunistas podem acabar voltando como um problema estratégico.
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