A Tesla decidiu seguir um caminho inusitado para apresentar seu aguardado serviço de robotáxis em Austin, no Texas.
Diferente de outros lançamentos grandiosos promovidos pela montadora, esse evento foi discreto, com acesso restrito e dominado por influenciadores digitais declaradamente fiéis a Elon Musk.
Jornalistas tradicionais e críticos da tecnologia foram deixados de fora — e, pior, ridicularizados nas redes sociais por fãs do empresário.
Os poucos convidados que participaram da experiência presencial com os veículos autônomos eram, em sua maioria, criadores de conteúdo e entusiastas da marca que já atuam como defensores fervorosos de Musk na internet.
A estratégia parece seguir uma lógica já conhecida: ao eliminar a imprensa do processo, a Tesla molda a narrativa à sua maneira.
A frase “nós somos a mídia agora” foi repetida em diversos posts relacionados ao evento, especialmente em plataformas como o X (antigo Twitter) e no YouTube.
Esses canais, muitos deles controlados pelo próprio Musk, são onde essa nova mídia alternativa floresce — uma mídia que, por sinal, recebeu acesso exclusivo ao lançamento.
Especialistas alertam que o modelo de comunicação adotado pela Tesla vem se aproximando de uma propaganda corporativa disfarçada de espontaneidade.
Joan Donovan, professora da Universidade de Boston, destacou que o evento serviu mais para resgatar a imagem da marca do que para demonstrar, de forma transparente, a tecnologia envolvida.
Segundo ela, trata-se de um ambiente fechado e altamente controlado, no qual os próprios participantes — os influenciadores — atuam como uma espécie de “coro grego” que reforça a imagem idealizada do produto.
Esse movimento também foi percebido em fóruns como o r/SelfDrivingCars, no Reddit, onde usuários apontaram uma enxurrada de conteúdos supostamente manipulados para defender a Tesla e rebater qualquer crítica.
O autor e crítico Ed Niedermeyer revelou já ter identificado, inclusive, funcionários da Tesla moderando fóruns relacionados à empresa.
A ausência de uma equipe de relações públicas desde 2020 e a recusa em responder perguntas de jornalistas fazem parte desse padrão.
Desde a compra do Twitter, Musk intensificou ainda mais o isolamento midiático, chegando a banir perfis críticos e privilegiar a comunicação direta com seus seguidores.
É fato que parte desse apoio surgiu de maneira genuína, com admiradores da proposta da Tesla de transformar a mobilidade com foco em energia limpa e ousadia tecnológica.
No entanto, com promessas não cumpridas e apresentações frustrantes, como o evento “We robot” de 2023, boa parte do entusiasmo foi arrefecendo — restando apenas os seguidores mais fiéis e engajados.
Muitos desses fãs ainda colhem benefícios concretos. Alguns recebem vantagens como milhas grátis em carregadores ou descontos em compras, mediante uso de códigos de referência.
Já outros parecem ser premiados com acesso a lançamentos exclusivos, como foi o caso do robotáxi. Para quem também é acionista da Tesla, manter a imagem da empresa em alta é mais que um hobby: é interesse financeiro direto.
Ainda que o evento tenha agradado a bolha que acompanha Musk, a tendência é que esse formato de comunicação restrita não sustente o avanço do robotáxi no longo prazo.
Se a Tesla quiser convencer o público mais amplo — e não apenas os já convertidos — terá que abrir espaço para críticas e perguntas difíceis. Até lá, a empresa parece seguir confortável em sua própria bolha digital.
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