Toyota espalha desinformação ambiental com plataforma interna que usa jogos para treinar funcionários contra EVs

toyota logo (2)
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Em meio à crescente cobrança por atitudes sustentáveis, a Toyota adotou uma estratégia inusitada — e controversa — para reforçar sua atuação política contra avanços ambientais na indústria automotiva.

A montadora japonesa tem usado uma plataforma interna com jogos interativos para envolver cerca de 10 mil funcionários na América do Norte em campanhas de lobby contra regulamentações ecológicas.

Batizado de “Toyota Policy Drivers ”, o sistema transforma ações políticas em um jogo com recompensas como camisetas, adesivos e até viagens, como uma para Washington, DC, oferecida a um dos participantes.

Criada pela empresa de software LGND, também contratada por fornecedores militares como Bechtel e Aurex, a plataforma apresenta vídeos com argumentos favoráveis aos híbridos — sugerindo que poluem menos que os EVs, o que não é verdade.

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toyota policy drivers (1)
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A dinâmica é simples: os funcionários assistem a vídeos que distorcem dados sobre emissões e políticas ambientais e, em troca, recebem pontos que podem ser trocados por prêmios.

Entre os jogos disponíveis estão títulos como “Monster Mansion”, “Adventure Quest” e “Star Quest”, com temáticas que lembram RPGs clássicos — a ponto de um deles levantar suspeitas de uso indevido de marca.

O jogo “Star Quest”, por exemplo, convida os usuários a “salvar” um planeta fictício, enquanto na prática os incentiva a pressionar políticos para enfraquecer normas que protegem o planeta real.

A plataforma permaneceu acessível publicamente até ser protegida por senha após reportagem do The Guardian expor os detalhes do programa.

toyota policy drivers (2)
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Apesar de se apresentar como uma ação de “advocacy de base”, a iniciativa carrega um forte caráter corporativo, sendo promovida durante o expediente e com apoio direto de executivos da marca.

O vice-presidente de assuntos públicos da Toyota na América do Norte, Stephen Ciccone, é apontado como um dos principais articuladores da estratégia, descrita por críticos como “distorcida” e “infantilizadora”.

Segundo Adam Zuckerman, do grupo Public Citizen, a abordagem é “digna de distopias”, usando jogos para manipular a percepção dos funcionários sobre políticas ambientais.

As ações internas revelam um contraste cada vez mais gritante entre a imagem histórica da Toyota e suas práticas recentes.

toyota policy drivers (3)
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Durante décadas, a marca foi sinônimo de eficiência ecológica, em especial com o sucesso do Prius, que popularizou os híbridos no início dos anos 2000.

No entanto, hoje o Prius já não é competitivo frente à eficiência energética dos EVs, e até mesmo um Hummer EV — com todas as suas controvérsias — atinge consumo semelhante ao híbrido japonês.

Pior: enquanto os EVs podem operar com energia limpa, os híbridos da Toyota continuam 100% dependentes de combustíveis fósseis.

Os próprios relatórios da EPA mostram que as emissões médias da frota da marca nos EUA vêm aumentando, com desempenho apenas mediano em economia de combustível.

A insistência da Toyota em defender híbridos como solução definitiva para o clima se reflete também em ações judiciais: a empresa foi a última a abandonar um processo contra o direito da Califórnia de estabelecer padrões mais rígidos de emissão.

Além disso, promoveu campanhas em escolas japonesas com mensagens contra os EVs e mantém práticas de “greenwashing” mesmo após prometer mudanças.

A reação dos consumidores a essas atitudes tem sido negativa: ao descobrirem o envolvimento da marca em ações contra o meio ambiente, 32% dos proprietários reduzem sua simpatia pela Toyota, segundo pesquisas.

Apesar da pressão pública, a montadora segue apostando em sua narrativa híbrida, mesmo que os dados contradigam sua eficácia ambiental.

Internamente, o uso de jogos para manipular empregados reforça o distanciamento entre a imagem ecológica cultivada durante anos e a realidade de uma empresa que, cada vez mais, se opõe aos avanços verdes do setor.

A Toyota alega que a participação dos funcionários é voluntária, mas o contexto de incentivos e clima organizacional levanta dúvidas sobre a real liberdade de escolha.

Pior ainda, a própria empresa se gaba dos resultados obtidos com a plataforma, como o apoio a tentativas legislativas de enfraquecer a autonomia de estados norte-americanos em criar padrões de ar limpo.

Essa contradição escancara a distância entre o discurso público e a prática privada de uma das maiores montadoras do mundo.

Enquanto o planeta clama por mudanças urgentes, a Toyota aposta em videogames e propaganda para atrasar a transição que ela própria ajudou a iniciar décadas atrás.

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Autor: Eber do Carmo

Fundador do Notícias Automotivas, com atuação por três décadas no segmento automotivo, tem 20 anos de experiência como jornalista automotivo no Notícias Automotivas, desde que criou o site em 2005. Anteriormente trabalhou em empresas automotivas, nos segmentos de personalização e áudio.


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