
A fibra de carbono, material que se tornou sinônimo de leveza e alta performance na indústria automotiva, está sob ameaça na Europa.
Legisladores da União Europeia estão discutindo a inclusão do composto na lista de materiais perigosos, o que pode levar a sua proibição em carros novos nos próximos anos.
O motivo? Preocupações com impactos ambientais e riscos à saúde humana durante o processo de reciclagem.
A proposta faz parte de uma versão revisada da Diretiva de Veículos Fora de Uso (End of Life Vehicles – ELV), apresentada em abril de 2025, conforme revelou o jornal japonês Nikkei.

Segundo o texto, fragmentos de fibra de carbono liberados quando o material é cortado ou reciclado podem representar riscos tanto para o meio ambiente quanto para trabalhadores expostos.
Embora a proposta ainda esteja em debate e não tenha sido aprovada, sua simples existência já está causando apreensão entre montadoras e fornecedores. Afinal, esta seria a primeira vez que uma grande jurisdição classifica oficialmente a fibra de carbono como substância perigosa.
E mais: o texto abre espaço para exceções apenas “quando não houver alternativas viáveis” — o que, indiretamente, sugere que as autoridades europeias acreditam que essas alternativas já existem, embora nenhuma tenha sido nomeada até agora.
Fibra de carbono: de nicho à necessidade
Originalmente usada em carros de corrida e superesportivos, a fibra de carbono passou a ganhar espaço em modelos de produção mais amplos nos últimos anos, especialmente com o avanço dos veículos elétricos.

Como as baterias são pesadas, as montadoras buscam materiais leves para compensar o peso extra e manter a autonomia competitiva. O BMW iX, por exemplo, utiliza um conjunto de painéis estruturais de fibra de carbono chamado Carbon Cage.
No entanto, se a proposta seguir adiante, os planos de redução de peso com esse material podem ser drasticamente afetados.
A expectativa é que, se aprovada, a proibição comece a valer a partir de 2029 — tempo suficiente, segundo os legisladores, para que a indústria se adapte.
Restrições em outros setores? Por enquanto, não
A princípio, a medida se aplicaria apenas ao setor automotivo.

Não há menção, até o momento, de restrições ao uso de fibra de carbono em outros segmentos onde o material também é amplamente utilizado, como na indústria aeronáutica (caso do Boeing 787 Dreamliner), turbinas eólicas, bicicletas de alto desempenho, mastros de veleiros e varas de pesca.
Ainda assim, a preocupação é generalizada.
Fabricantes e usuários do material já estão se mobilizando para tentar barrar a proposta ou, ao menos, garantir isenções específicas, como ocorre atualmente com outros materiais classificados como perigosos — entre eles o chumbo, mercúrio, cádmio e cromo hexavalente, todos ainda permitidos em determinados usos na indústria automotiva por falta de alternativas técnicas viáveis.
Impacto potencial e reação da indústria
A decisão da UE poderá ter um efeito cascata sobre diversas cadeias produtivas, especialmente em um momento em que a indústria automotiva já enfrenta desafios para atender às metas de emissões, transição para elétricos e custos crescentes de produção.
A reação das montadoras, especialmente aquelas que investiram pesado em tecnologias leves para seus modelos eletrificados, deve ser intensa.
Caso a proposta seja mantida, é possível que a fibra de carbono acabe classificada como material perigoso, mas com exceções práticas que permitam seu uso controlado — o que evitaria a paralisação de projetos em andamento.
Por outro lado, há também a chance de que, diante da pressão política e industrial, a ideia seja simplesmente abandonada.
Enquanto o Parlamento Europeu, a Comissão Europeia e o Conselho Europeu se preparam para discutir o tema nas próximas semanas, uma coisa é certa: a polêmica em torno da fibra de carbono está apenas começando — e o futuro dos materiais leves na indústria automotiva pode estar prestes a mudar drasticamente.

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