Apesar da pressão crescente por eletrificação, os motores a combustão ainda têm um tempo extra de vida garantido — mas isso não virá sem um preço.
Com a transição para veículos elétricos acontecendo de forma mais lenta do que o previsto, várias montadoras estão revendo seus planos e retomando o desenvolvimento de propulsores a gasolina. No entanto, esse movimento está sendo feito com uma nova lógica: menos diversidade, mais padronização.
John Lawler, vice-presidente da Ford, resumiu bem essa nova abordagem. Para ele, o consumidor médio já não se importa com detalhes técnicos como potência, cilindrada ou torque.
“Tudo isso está perdendo importância”, afirmou. Isso significa que os motores podem passar a ser tratados como commodities, tal como hoje são baterias e motores elétricos: desenvolvidos por poucos fornecedores e compartilhados entre diversas marcas.
Exemplos disso já estão surgindo. Renault e Geely firmaram uma joint venture chamada Horse para desenvolver uma família única de motores a combustão, que também será usada por marcas como a Volvo.
A ideia é clara: reduzir custos e simplificar a produção em um mercado onde cada centavo importa.
Especialistas concordam que isso representa uma mudança de paradigma. Antes, o motor era um dos principais elementos que definiam a personalidade de um carro.
Hoje, para muitos consumidores, ele é apenas um meio de transporte eficiente e silencioso. Robby DeGraff, analista da AutoPacific, observa que apenas os entusiastas e compradores de esportivos ainda valorizam essas distinções.
Para o restante, o que importa é consumo, desempenho em acelerações cotidianas e conforto acústico.
A nova realidade sugere que o futuro do motor a combustão será baseado em menos opções e mais eficiência. Modelos híbridos devem se tornar o padrão, com menor variação técnica entre os diferentes veículos.
Isso traz vantagens industriais e comerciais, mas pode representar a morte lenta da alma dos entusiastas: aquele ronco inconfundível, a resposta única de cada propulsor, a sensação visceral ao volante.
É o dilema do futuro: vale a pena manter os motores a combustão vivos se, para isso, eles precisarem perder sua individualidade?
Para quem viveu a era de ouro dos V6, V8 e turbos com personalidade, a resposta talvez seja amarga. Mas para a indústria, a consolidação é, cada vez mais, um caminho inevitável.
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