
A crise geopolítica entre China, Europa e Estados Unidos começa a cobrar um preço alto da indústria automotiva alemã, e a Volkswagen está no centro desse furacão.
A montadora reportou um prejuízo de €1,3 bilhão (cerca de R$ 7 bilhões) no terceiro trimestre, atribuindo as perdas ao impacto direto das tarifas impostas pelo governo Trump e a uma guinada estratégica na Porsche, que está abandonando sua aposta em carros elétricos.
O número contrasta fortemente com o mesmo período do ano anterior, quando a empresa havia registrado lucro de €2,8 bilhões, segundo o jornal The New York Times.
É o primeiro resultado negativo desde a pandemia, que já havia exposto fragilidades nas cadeias globais de suprimento.
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Boa parte do problema atual gira em torno da disputa internacional envolvendo a fornecedora de semicondutores Nexperia, com sede na Holanda, mas controlada por uma empresa chinesa.

Após o governo holandês tentar tomar controle da empresa, Pequim respondeu bloqueando as exportações de chips — que são cruciais para sistemas simples como limpadores de para-brisa, setas e luzes de alerta.
Segundo a própria Volkswagen, os estoques atuais de semicondutores só garantem produção até o fim da próxima semana. A escassez desses componentes, cerca de 2.000 por veículo, ameaça paralisar as fábricas da empresa na Europa.
O impacto das tarifas americanas também foi significativo. Com o aumento de 2,5% para 15% sobre veículos importados, a estimativa é que a Volkswagen tenha um custo adicional de até €5 bilhões apenas em 2025.
Apesar disso, a empresa ainda acredita que pode atingir suas metas financeiras anuais — mas apenas se conseguir manter um fluxo mínimo de chips em sua linha de produção.

Na tentativa de suavizar os efeitos da guerra comercial, a Volkswagen vem negociando com autoridades dos EUA para que seus investimentos em solo americano, como a participação de R$ 5 bilhões na Rivian, sejam levados em consideração em futuras decisões tarifárias.
Além disso, a montadora avalia se construirá uma nova fábrica da Audi nos Estados Unidos, com decisão prevista até o fim do ano.
A divisão Porsche, controlada em 75% pela Volkswagen, é outro ponto de pressão.
A marca de luxo abandonou temporariamente seu foco em EVs após quedas bruscas na demanda, especialmente no mercado chinês, e isso gerou um prejuízo de €966 milhões no trimestre.

Entre janeiro e setembro, o abandono da estratégia elétrica na Porsche gerou um impacto contábil de €4,7 bilhões no balanço do grupo. Como resultado, cerca de 4.000 empregos serão cortados, e novas demissões são esperadas ainda este ano.
Essa reviravolta marca um duro golpe na narrativa de transição energética das montadoras alemãs e levanta dúvidas sobre a viabilidade econômica dos EVs de luxo em um mercado global cada vez mais imprevisível.
A economia da Alemanha, que por décadas se apoiou no sucesso da indústria automotiva, também mostra sinais claros de desgaste. Entre julho e setembro, o PIB do país ficou estagnado, sem crescimento em relação ao trimestre anterior.
Para analistas, o impasse com a China e os efeitos da desindustrialização europeia colocam a Alemanha em uma posição de vulnerabilidade inédita.
Como escreveu o economista Carsten Brzeski, do ING, “a indústria alemã já não dita mais as regras — agora, ela apenas reage”.
A pressão interna também aumenta. Oliver Blume, CEO da Volkswagen e da Porsche desde 2022, é cotado para deixar o cargo até o fim deste ano, numa tentativa de reorganizar a liderança em meio à turbulência.
A combinação de desafios externos e decisões estratégicas mal calculadas revela um momento de transição difícil para o setor automotivo alemão — e mostra que o caminho para o futuro elétrico está longe de ser linear.
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