
A Volkswagen confirmou nesta semana um baque de €5,1 bilhões em seu lucro operacional, em meio a uma combinação de más notícias envolvendo sua subsidiária Porsche, o mercado chinês e as tarifas dos Estados Unidos.
O anúncio representa a segunda revisão negativa das projeções de lucro da gigante alemã em 2025 — e reforça que a transição para os carros elétricos, pelo menos entre os modelos de luxo, não está seguindo o roteiro idealizado.
O principal motivo do prejuízo bilionário foi o anúncio da Porsche de que vai adiar a chegada de novos modelos elétricos que estavam previstos para serem posicionados acima do SUV Cayenne.
Ao invés disso, a marca esportiva de Stuttgart vai manter as versões a combustão e híbridas por mais tempo no mercado, prolongando a vida útil de seus motores tradicionais até “bem depois de 2030”, segundo o próprio CEO Oliver Blume.
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Blume, que também comanda o grupo Volkswagen, afirmou que “há uma queda clara na demanda por veículos 100% elétricos no segmento de luxo” e que a marca está ajustando seus planos de acordo com a realidade do mercado.

A plataforma de software dos futuros elétricos da Porsche, prevista para a década de 2030, também foi adiada.
O executivo ainda deixou claro que a marca está pronta para um ritmo mais lento ou mais acelerado na eletrificação, mas que conta com “flexibilidade” da União Europeia sobre a proibição dos motores a combustão a partir de 2035 — embora autoridades europeias, até o momento, se mostrem inflexíveis quanto a essa meta.
A decisão da Porsche vem num momento em que o segmento de carros elétricos enfrenta desafios específicos.
Além da desaceleração na China — especialmente no mercado de bens de luxo —, a empresa também foi afetada pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos.
Atualmente, veículos europeus enfrentam uma tarifa de 27,5% ao entrar no mercado americano, mas a Porsche havia projetado seus lucros com base em um cenário de 15%, esperando que um novo acordo tarifário retroativo seja firmado entre EUA e União Europeia.

Oliver Blume confirmou que negocia pessoalmente com o governo americano e estaria disposto a visitar os EUA em outubro para tentar viabilizar um pacote de investimentos locais que poderia suavizar a situação.
Uma das possibilidades seria “colocar a Porsche sob o guarda-chuva” de incentivos a investimentos no território norte-americano.
Do lado financeiro, o impacto já foi registrado. A Volkswagen precisou reavaliar suas ações na Porsche e reduzir seu valor contábil em €3 bilhões.
Somado a isso, o efeito direto no lucro operacional de 2025 será de €2,1 bilhões adicionais, totalizando os €5,1 bilhões já mencionados.
Com isso, a empresa revisou sua margem de lucro operacional para baixo: de uma estimativa entre 4% e 5% para um intervalo entre 2% e 3%. Analistas previam 4,7%.
Vale lembrar que em 2024 a Volkswagen havia registrado €19 bilhões em lucro operacional, com margem de 5,9%. Agora, o tom é de cautela — e até preocupação.
Para o analista independente Matthias Schmidt, o rebaixamento não chega a ser surpreendente, dado o cenário geopolítico complicado e os desafios da indústria automotiva global.
No entanto, ele alerta que os novos atrasos nos planos elétricos da Porsche evidenciam um problema já conhecido no grupo: as dificuldades com plataformas de software, que já impactaram cronogramas anteriores e podem causar mais adiamentos.
Enquanto isso, a holding Porsche SE, controlada pela família Porsche-Piëch, mantém 53,3% do poder de voto no grupo VW. Já a Volkswagen possui mais de 75% das ações ordinárias da Porsche AG, enquanto a holding detém mais 12,1%.
Com esse cenário, uma coisa é certa: o brilho do carro elétrico premium parece ter diminuído, ao menos por enquanto. E, no caso da Porsche, quem paga o preço por essa desaceleração é a própria Volkswagen — e seus acionistas.
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