Um novo conjunto mecânico está chegando ao Renault Kardian, que é o modelo base com câmbio manual, que está sendo vendido por R$ 106.000.
Mas, essa avaliação não é desse modelo, e sim da versão topo de linha Premiere, com câmbio automático.
Já tínhamos publicado uma avaliação dele em junho, e outra em setembro, que destaca as dificuldades que o modelo está tendo no mercado.
Tínhamos avaliado esse carro em agosto, mas na ocasião o carro estava com vários problemas, com o painel do ar-condicionado quebrado, piloto automático adaptativo sem funcionar, etc, talvez por mau uso em alguma avaliação anterior, vai saber… tivemos de o devolver sem terminar a avaliação.
Aí o carro voltou para a fábrica, e ficou por lá algumas semanas, até ter todos os problemas resolvidos. Por isso a nossa publicação só agora, pois tivemos de pegar o carro novamente para o testar.
Um segmento de SUVs cheio de hatches
O Renault Kardian, também conhecido como Dacia Sandero de terceira geração vendido na Europa, é uma adaptação feita para o mercado da América Latina, onde é vendido como SUV compacto, ao invés de hatch compacto.
É claro que ele foi melhorado para entrar em comercialização aqui, pois ganhou freio de estacionamento eletrônico e piloto automático adaptativo.
Mas essa venda de hatch como SUV não é novidade em nosso mercado, pois aqui, todos os modelos um pouco mais modernos, acabam virando “SUVs compactos”, pois você consegue cobrar mais caro por um suposto SUV do que cobraria por um hatch de entrada.
Mas, entrando em um segmento já habitado por Volkswagen Nivus e Fiat Pulse, o Kardian, por ser mais moderno e um pouco mais requintado, consegue empolgar mais e chamar a atenção do mercado.
Infelizmente, sabemos que existem regiões do país com muito preconceito com marcas francesas, onde as vendas da Renault são fraquíssimas, mas mesmo quem tem esse preconceito, deveria o deixar de lado e dar uma volta em um Kardian, pois dá pra afirmar com certeza que ele é o melhor produto que a Renault lançou no Brasil em muitos anos.
Ele deveria estar em uma posição melhor do que décimo entre os SUVs compactos.
Preço bem interessante, mas que já subiu, em poucos meses
O Renault Kardian chegou ao mercado brasileiro por R$ 132.790, nessa versão topo de linha Premiere, que avaliamos.
Isso aconteceu em fevereiro. Hoje, o preço da mesma versão já está em R$ 138.990, segundo o site da marca, reduzindo um pouco o apelo do modelo perante seus concorrentes principais.
O bom é que o preço do Fiat Pulse Impetus hoje é exatamente o mesmo, R$ 138.990, o que ainda deixa o Kardian bem competitivo.
A comparação com o VW Nivus, você já bem sabe: os modelos da Volkswagen sempre são mais caros do que seus concorrentes, e o Nivus 2025 tem preço de R$ 153.990 na versão equivalente, que é a Highline.
Em termos de preços, a comparação deve ser feita com o modelo Comfortline, que sai por R$ 136.990, mas é inferior em equipamentos de série, faltando, por exemplo, as rodas de 17 polegadas, o acendimento automático dos faróis, e os sensores de estacionamento dianteiros do Kardian.
Espaço de um hatch com teto alto, mas com conforto de um “SUV compacto”
O Kardian tem um espaço interno interessante. Não é muito amplo, por limitações vindas do seu tamanho, mas é bem moderno.
Os bancos dianteiros são bem envolventes, com abas laterais bem pronunciadas e confortáveis, e eles tem uma regulagem de altura excelente, que permite que uma pessoa bem baixa dirija com uma posição bem elevada, mas também lhe permite colocar ele lá embaixo e dirigir como seria em um hatch.
A coluna de direção também tem um ajuste bem amplo, tanto de altura quanto de profundidade, o que ajuda a encontrar a posição ideal.
O isolamento acústico do motor foi muito bem feito, deixando o interior silencioso. Mas também é possível ouvir o motor de três cilindros em altas rotações, instigando a uma tocada mais agressiva.
O painel, apesar de simples, é bem moderno, com uma faixa de vinil na região central, mesmo acabamento macio dos puxadores das portas, que se estende até o final da porta, e não fica apenas na área de contato do braço, como acontece em vários modelos dessa faixa de preço.
A partida por botão e o freio de estacionamento eletrônico (que acaba ficando ali só de enfeite, pois aciona automaticamente tanto ao estacionar quanto ao partir) dão um toque de mais requinte do que modelos similares do mesmo preço.
O que temos pra reclamar do interior do Kardian é a central multimídia, que tem uma tela muito pequena, de oito polegadas, e, apesar de ter pareamento sem fio com celulares, tem um comportamento lento, e uma resolução de imagem muito ruim, inclusive na câmera de ré.
Os comandos de áudio continuam com ergonomia ruim, naquele comando satélite atrás do volante, que habita os modelos da Renault pelos últimos 500 anos.
Suspensão equilibrada, mas em alguns momentos, firme demais
A nova plataforma da Renault, que está tendo sua estreia no Brasil através do Kardian, tem suas melhorias no quesito de suspensão. Na suspensão dianteira, temos longarinas mais fortes e robustas, o que dá mais rigidez para o uso diário.
Na sensação que temos ao rodar com o Kardian em ambientes urbanos, vemos que ela é firme, entregando um bom controle para o motorista, mas em alguns obstáculos que sempre encontramos, como lombadas e valetas, creio que ela poderia ser um pouco mais macia, como é o caso do Pulse, por exemplo.
Para ficar mais fácil de entender, o Kardian faz curvas como se fosse um hatch, tendo um lado um pouquinho mais esportivo, o que pode incomodar quem gosta de uma suspensão macia, em “pancadas de piso ruim” que deveriam ser pequenas, e se tornam mais notáveis.
Conjunto bem acertado, com desempenho gostoso, respostas rápidas e câmbio ágil
Apesar de ter, naturalmente, aquela pequena demora para se acionar a turbina, que chamamos de lag, o que prejudica um pouco as saídas a partir da imobilidade, logo em seguida o Kardian acorda e passa a entregar um desempenho bem agradável.
Os 22,4 kgfm de torque máximo do motor 1.0 turbo de três cilindros do Kardian, são entregues a 2.250 rotações (são 125 cavalos). Mas não parece ser assim, parece que ele tem total disponibilidade desse torque antes mesmo dos 2.000 giros.
Mas o que impressiona mesmo no Kardian é a agilidade de seu câmbio de dupla embreagem, com seis marchas, em uso urbano.
Alguns poderiam dizer que a programação do câmbio é conservadora, visando um melhor consumo de combustível, por isso as trocas constantes, mas mesmo que seja isso mesmo, as trocas são ágeis e rápidas, e o carro sempre mantem um giro baixo.
É difícil saber exatamente em que nível de giro do motor as trocas são feitas, pois o painel digital dificulta muito a leitura dessa informação, mas parece ser entre 2.400 e 2.500 rotações, quando o pé está leve no acelerador.
Ele segura as marchas somente o que for estritamente necessário, efetuando a troca rapidamente.
Com isso, o nível de ruído se mantém baixo, e o motorista tem uma sensação do carro estar sempre esperto, acordado, pronto para uma aceleração mais forte, se necessário.
As trocas de marchas não patinam, como aconteceria em um CVT com marchas fictícias, e você nem sente as trocas, elas são bem suaves.
O Kardian se mostra uma boa opção para quem quer um carro 1.0 econômico, mas quer sentir o carro na mão, com uma boa tocada.
Consumo maior do que o esperado
O consumo divulgado pelo Inmetro, no Brasil, para qualquer carro que seja, sempre será mais otimista do que vamos conseguir na prática, dirigindo nas ruas.
Mas no caso do Kardian, essa diferença foi maior do que esperavamos, com 11,1 km/l com gasolina contra 13,1 km/l que o Inmetro indica.
E olha que rodamos em uma cidade plana, com amplas avenidas, e sem trânsito muito lento ou travado.
Pode ser o caso de que o carro que testamos ainda estava com 4.000 e poucos quilômetros, então com o passar do tempo pode ser que esse número melhore.
Visual moderno e chamativo
O Kardian foi amplamente melhorado aqui no Brasil, em sentido visual, se compararmos com seu irmão quase gêmeo, Dacia Sandero.
Temos um carro com a identidade mais moderna da Renault, com o novo emblema da marca, e linhas bem contemporâneas, que chamam a atenção no dia-a-dia.
A traseira entrega suas origens, mas a frente foi pensada exatamente para passar a impressão de SUV sobre o hatch.
A grande maioria das pessoas que comprarem o modelo irão preferir outra cor, é claro, dado que o mercado brasileiro é muito conservador para aceitar uma cor laranja como essa do carro das fotos.
Mas, quer seja em branco, preto ou cinza escuro, ele também fica muito bonito.
Equipamentos fartos
Além dos equipamentos já existentes nas outras versões do modelo, como seis airbags, painel digital, câmera de ré, frenagem automática de emergência, alerta de colisão frontal, freio de estacionamento eletrônico, console elevado com apoio de braço, chave presencial, etc., temos também:
Controle de velocidade adaptativo, câmera Multiview, alertas de ponto cego e de distância segura, sensores de estacionamento frontal, faróis de neblina em leds, Multi-Sense com modos de condução “Eco”, “Sport” e “My Sense”, iluminação customizável do interior, carregador de smartphone por indução, rodas de liga leve 17 polegadas diamantadas e escurecidas, antena “shark” e grade em preto brilhante.
E o Fiat Pulse?
É claro que o Pulse Impetus tem suas qualidades, e também conta com alguns equipamentos de série que o Kardian Premiere não tem, como o limpador de parabrisa automático, mas acredito que o Kardian hoje está mais interessante pelos seguintes motivos:
No Pulse, a posição de dirigir é forçada para o alto, para ficar diferente da posição do Argo. Com isso, é complicado achar uma posição boa para dirigir.
O banco traseiro é curto demais, prejudicando o conforto de quem vai ali. O espaço interno é pior, pois tem 3 centímetros a menos na altura, e 7 centímetros a menos no entre-eixos.
O porta-malas é menor, com cerca de 50 litros a menos. E, em equipamentos, o Pulse tem dois airbags a menos, não tem câmera 360, não tem regulagem de altura do farol, não tem piloto automático adaptativo e não tem freio de estacionamento elétrico.
Lembre-se de que o preço dos dois hoje é exatamente igual.
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