
A BYD, já conhecida por seus elétricos compactos e acessíveis como o Seagull, que no Brasil é vendido como Dolphin Mini, está prestes a dar mais um passo ousado: lançar um novo mini EV no Japão — e isso pode representar um terremoto no mercado japonês de carros urbanos.
O modelo, que será lançado em 2026, deve atender às especificações dos famosos kei cars, minicarros extremamente populares no arquipélago por sua praticidade, economia e incentivos fiscais.
Com essa investida, a líder chinesa em carros elétricos pretende disputar espaço justamente no segmento que é o coração da indústria automotiva japonesa.
Montadoras como Suzuki, Honda, Nissan e Subaru dependem dos kei cars para manter sua relevância doméstica.

Só em 2023, esses veículos representaram cerca de 40% das vendas de carros novos no Japão, com mais de 1,55 milhão de unidades emplacadas.
A BYD já começou a se estabelecer no país: em 2024, vendeu 2.223 veículos elétricos, o que correspondeu a 4% de todo o mercado japonês de EVs — um feito notável para uma marca estrangeira em um mercado historicamente fechado.
Para efeito de comparação, o Nissan Sakura e o Mitsubishi eK X — ambos kei cars — dominaram com mais de 40% de participação entre os EVs vendidos.
O novo mini EV da BYD será o menor modelo da marca até agora e terá dimensões ainda mais compactas que o Seagull, que hoje mede 3.780 mm de comprimento e foi o carro mais vendido da empresa no mês passado, com mais de 55 mil unidades entregues.

O líder do mercado japonês, o Honda N-Box, tem 3.395 mm de comprimento e segue como o carro mais vendido do Japão há três anos consecutivos.
A expectativa é que o novo modelo da BYD custe cerca de 2,6 milhões de ienes (aproximadamente US$ 18 mil), preço similar ao do Nissan Sakura, líder entre os elétricos no Japão.
Mas a BYD tem um trunfo difícil de ignorar: sua vantagem de custo de produção.
A marca domina toda a cadeia de fornecimento, fabrica suas próprias baterias Blade — que também são usadas por gigantes como Tesla, Toyota e Mercedes-Benz — e tem se destacado por entregar modelos bem equipados a preços agressivamente baixos.

Em eventos como o seminário de tecnologia de baterias promovido pelo Central Japan Economic and Trade Bureau, o SUV elétrico Atto 3 causou alvoroço entre os participantes.
O modelo, que custa cerca de 4,18 milhões de ienes (US$ 29 mil), oferece equipamentos comparáveis a modelos significativamente mais caros da concorrência — e levantou uma pergunta recorrente entre os presentes:
“Como pode ser produzido a um custo tão baixo?”
O avanço da BYD no Japão tem preocupado os executivos locais. Um revendedor da Suzuki chegou a admitir ao jornal Nikkei: “Os jovens não têm uma visão negativa da BYD. Se a marca lançar modelos baratos por aqui, será uma ameaça enorme.”
A BYD já iniciou a busca por talentos com experiência no setor de veículos leves no Japão e lançou um novo site para recrutamento no país.

A estratégia é clara: consolidar presença, entender o consumidor local e desafiar o domínio histórico das marcas japonesas em seu próprio território — começando justamente pelo segmento mais simbólico e acessível.
Com sua experiência em produção em larga escala, domínio tecnológico e preços competitivos, a entrada da BYD no mercado de kei cars pode marcar o início de uma nova fase para os carros urbanos no Japão — e, possivelmente, em outras partes da Ásia.

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